Crítica | Rustin é um filme que todos precisam assistir
- Victor Lee

- 9 de mar. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 8 de jun. de 2024

A década de 1960 foi marcada por grandes movimentos e protestos, como os hippies e as manifestações contra a guerra fria e as bombas nucleares. Um dos movimentos mais emblemáticos da época foi o movimento civil em favor dos negros e da igualdade em uma sociedade harmônica para todas as raças oprimidas, assunto debatido até hoje pelo mundo todo.
Mas por que os anos 60 foram uma grande reverberação para a causa dos povos negros? Quem estava por trás de tudo isso? Como já diz o ditado, "uma andorinha só não faz verão", e é claro que sempre vamos lembrar da figura de Martin Luther King, Shirley Chisholm ou Huey Newton. Mas poucos sabem sobre um dos ativistas mais importantes dos direitos civis da época, Bayard Rustin, que em 1963 organizou a Grande Marcha em Washington DC.

Foto: Reprodução / Netflix
Após 36 anos de sua morte, “Rustin” ganhou uma cinebiografia mostrando um determinado período de sua vida e do quanto lutou pela causa. Quem assume a direção do longa é George C. Wolfe, que também está por trás de outras grandes cinebiografias como "A Voz Suprema do Blues" (2020) e "The Immortal Life of Henrietta Lacks" (2017).
O filme ainda conta com a produção de Barack e Michelle Obama. Em 2013, Obama concedeu postumamente a Medalha Presidencial da Liberdade para Bayard Rustin, cinquenta anos após a marcha. Desde que saiu da presidência, Obama concentra seus esforços na produtora Higher Ground, que já produziu podcasts, filmes, programas para a televisão e diversos documentários, incluindo um ganhador do Oscar.
A vida e o grito da resistência

Foto: Reprodução / Netflix
Bayard Rustin, nascido em 1912, foi criado por seus avós, membros do grupo cristão QUAKRE, cujos valores influenciaram sua vida, especialmente quando ele se envolveu no ativismo. Durante sua juventude, Rustin destacou-se por seu potencial, ingressando na Universidade Wilberforce, em Ohio. No entanto, sua rebeldia o levou a organizar uma greve de estudantes, resultando em sua expulsão da instituição.
Após retornar ao seu estado natal, Rustin transferiu-se para a Universidade Cheyney State Teachers, onde começou sua jornada como ativista. Durante a Segunda Guerra Mundial, ele envolveu-se em organizações anti-guerra, onde conheceu Leslie Pinckney Hill, um influente líder comunitário negro que o orientou na militância pelos direitos civis. Logo, Rustin tornou-se um participante ativo em ações pelo movimento.
Embora tenha demonstrado habilidades de liderança, Rustin deixou a universidade por motivos desconhecidos, possivelmente relacionados à sua sexualidade, como sugerido por John D'Emilio em seu livro "O Profeta Perdido: A Vida e os Tempos de Bayard Rustin" (2003).
Domingo é o Oscar?

Foto: Reprodução / Netflix
Colman Domingo foi um dos indicados a Melhor Ator pela sua bela interpretação em “Rustin”. É interessante notar que os críticos que compõem a mesa de votação do Oscar geralmente apreciam atores que interpretam figuras públicas. Este ano, a competição será acirrada, com Bradley Cooper (Maestro), que dá vida a Leonard Bernstein, e o favorito para levar a estatueta, Cillian Murphy (Oppenheimer).
No entanto, o trabalho do ator na cinebiografia de Bayard apresenta uma comunicação singular que cativa o espectador ao longo do filme. Além de transmitir muito bem a dor que seu personagem enfrenta por ser boicotado devido à sua homossexualidade e afastado do movimento que tanto lutou. Domingo, sem dúvida, merece esse grande reconhecimento na categoria.
Veredito

Foto: Reprodução / Netflix
"Rustin" é uma cinebiografia que pode ser considerada um grito engasgado de uma luta que não começou ontem, nem hoje! É um confronto marcado por gerações. A obra se passa nos anos 60 e está muito bem ambientada com sua caracterização, figurino e cenários. Além disso, conta com a belíssima atuação de Colman e a direção do dramaturgo George C. Wolfe, que apresenta uma ideia interessante ao retratar a vida de Bayard, muito semelhante aos filmes de Spike Lee.
O filme traz uma forte energia não apenas pelo poder dramático da trama ou por ser uma biografia, mas por conseguir expressar a musicalidade e os desafios enfrentados pelo movimento em uma época em que o preconceito ainda era normalizado.
Nota: 3.5/5








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