CRÍTICA | Bugonia é uma piada sobre absurdos e teorias da conspiração
- Alan Pinheiro

- há 1 dia
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Crença, por si só, não é suficiente para determinar com exatidão algo ou alguém. Na ciência, determinações são definidas a partir de estudo e método científico, que exige rigor, comprovação e testes empíricos. No entanto, nem sempre a humanidade agiu dessa forma. Pior ainda. Quanto mais o tempo passa, mais a atualidade parece regredir para tempos antigos. Com tudo isso em mente e um pouco mais, o diretor grego Yorgos Lanthimos aglutinou suas ideias sobre teorias da conspiração em Bugonia (2025), filme que estreia nesta quinta-feira (27) nos cinemas brasileiros.
Ao contrário de outros longas da filmografia do diretor, a trama da nova obra é mais simples do que parece. Michelle Fuller (Emma Stone), CEO de uma empresa multinacional que atua no ramo de fármacos, é sequestrada por dois homens obcecados por teorias da conspiração que acreditam terem descoberto uma alienígena enviada para destruir a raça humana. Além da missão de salvar o planeta Terra da ameaça extraterrestre, Teddy (Jesse Plemons) e Don (Aidan Delbis), os responsáveis pelo sequestro, são primos que culpam a mulher por uma tragédia familiar que envolve a empresa chefiada por Michelle.
Remake do filme sul-coreano “Save the Green Planet!”, de 2003, Bugonia segue a história original do longa asiático, principalmente em relação ao desfecho da trama. Aqui, Lanthimos aproveita o clima instaurado mundialmente de uma “pandemia” das teorias da conspiração e constrói uma obra como sátira a esses movimentos. Seja a partir do texto ou com signos visuais, cada “escola do pensamento conspiracionista” ganha um lembrete. No fim, não há um desenvolvimento de nenhuma dessas “correntes”, mas é justificável. A falta de substância reflete diretamente na força dos argumentos do personagem principal, que se sustenta apenas em suas próprias crenças.

Todo o aspecto político sustentado por Teddy, no entanto, é tratado na superficialidade. Com o propósito de continuar no ritmo de contar uma piada, Lanthimos esquece que tem poder sobre a narrativa e perde o controle de seu próprio filme. Por horas, a obra adota um tom de absurdo, enquanto começa a se levar muito a sério em outras ocasiões. Não que impor uma constância na abordagem fosse a solução, mas a transição entre as sequências expõe uma indecisão sobre a mensagem. É só chacota ou tem crítica? Se nem o diretor sabe, não sou eu quem posso responder.
O grego, inclusive, adota liberdades estilísticas controversas com seu novo filme. Quem assistiu a Tipos de Gentileza (2024), Pobres Criaturas (2023), O Lagosta (2015) e Dente Canino (2009) consegue perceber as marcas construídas pelo diretor em sua filmografia. Apesar disso não configurar algo negativo, Bugonia é um trabalho em que Yorgos se permite sair – não totalmente – do que estava apresentando. A controvérsia surge pela falta de inspiração, já que pouquíssimos planos são memoráveis. O distanciamento em que a câmera por vezes adota parece, inclusive, refletir o pouco envolvimento do diretor com seu filme.
As abelhas
Bugonia era uma prática popular na antiga região do Mediterrâneo, baseada na crença de que as abelhas surgiam espontaneamente da carcaça de uma vaca. Há a possibilidade também de que o ato tenha se popularizado mais como figura de linguagem poética do que realmente como prática real. Ter o conhecimento sobre essa informação ajuda na interpretação do longa, que compara os humanos a uma colmeia de abelhas.
A principal valência do filme são seus personagens principais. Com um elenco enxuto, Lanthimos consegue lidar melhor com cada um dos quatro de maior destaque. Já citado, Teddy é o protagonista e aquele que mais exige de seu intérprete. Jesse Plemons, me arrisco a dizer, vive sua melhor performance através da complexidade do personagem. Do outro lado do espectro, Emma Stone pouco é exigida por Michelle Fuller, que surpreende ao ser pivô de uma dinâmica onde o sequestrado pode tomar o controle do sequestro para si a qualquer momento.

No meio de dois gigantes, Don é a verdadeira vítima. Enquanto uma guerra de mentiras é travada entre Teddy e Michelle, o primo influenciável existe como um termômetro das loucuras de cada um. Aidan Delbis destaca-se pela humanidade que consegue transparecer em tela, característica que falta nos outros dois personagens. Com menos tempo de tela, Stavros Halkias vive um policial que adiciona mais camadas a Teddy.
Bugonia, portanto, parece um experimento de Yorgos Lanthimos dentro de sua carreira. É como se o grego tivesse decidido gravar mais de duas horas de material com o objetivo de contar uma piada. Na mesma medida em que acerta no desenvolvimento de seus personagens, falha em se aprofundar na mensagem. A piada pode até ser boa, mas às vezes a graça está em quem conta. E Lanthimos não é bom contando piadas.
Nota: 3/5 🐝








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