Avatar: O Caminho da Água não é tão ruim quanto falam
- Caio Pamponét (Convidado)
- há 2 dias
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Avatar é uma franquia que há anos divide opiniões. Tem os fãs aficionados e tem quem ache que James Cameron se perdeu no universo de Pandora e nunca mais voltou - e realmente é quase isso, mas já começo dizendo que existe um propósito.
A relação do diretor com sua obra é praticamente um casamento com direito a Bodas de Pérola: são mais de 30 anos desde que começou a desenvolver o primeiro filme e cerca de duas décadas trabalhando ativamente nas continuações confirmadas até 2031.
Mesmo com um dos currículos mais respeitados da indústria cinematográfica, dirigindo a franquia Exterminador do Futuro, Aliens: O Resgate, Segredo do Abismo, True Lies e o lendário Titanic, o cineasta canadense constantemente recebe críticas por não investir em outros projetos além de Avatar e por ter roteiros “simples demais”. O seu último lançamento, ‘Avatar: O Caminho da Água’ (2022), não escapou disso.

Dando sequência ao filme estreado em 2009, que revolucionou o 3D e bateu recordes históricos de bilheteria (Top 1 no ranking até hoje), o segundo capítulo dessa jornada começa 10 anos após os eventos do primeiro Avatar. Somos apresentados à nova família de Jake Sully e Neytiri, com os filhos Neteyam, Lo'ak, Tuk e Kiri. Eles também cuidam de Spider, um garoto humano que foi deixado para trás em Pandora ainda bebê.
Sem dar muito tempo para nos familiarizarmos com os novos personagens, o “Povo do Céu” retorna com força total para Pandora sob a liderança do Coronel Miles Quaritch, ressuscitado em forma de Avatar e buscando vingança pessoal contra Jake.
A escolha de reutilizar o vilão de Avatar 1 de forma ainda mais poderosa é um pouco preguiçosa, mas que se encaixa bem na narrativa criada para o filme. Miles a todo tempo demonstra sua inveja e tenta se provar mais forte que o Jake - essa masculinidade pulsante é expressada ao longo de todo filme, não só pelo vilão e protagonista, como também por seus filhos homens, que querem mostrar serviço nas batalhas.
Depois de resistirem mas terem perdido Spider sequestrado, além da fauna e a flora da sua tribo devastadas pelos “Recombinantes” (avatares com memórias dos falecidos), Jake toma a difícil decisão de deixar a floresta e se refugiar no clã Metkayina, uma ‘espécie’ da área litorânea de Pandora. Aqui, o roteiro também se mostrou confuso: por que deixar seu povo sem um líder tornaria o lugar mais seguro? É evidente que essa escolha foi conveniente para que fôssemos apresentados a um novo cenário, mas essa expansão de universo poderia ter sido justificada através de algo que fizesse mais sentido.

Aqui, imergimos num ambiente completamente novo - o que antes era uma densa e exuberante floresta agora é um oceano reluzente recheado de recifes de corais e criaturas aquáticas. James Cameron abre espaço para o público contemplar e se encantar com essa atmosfera - um dos pontos cruciais da construção narrativa de Avatar. Depois de serem aceitos com relutância (e até preconceito), os Sullys se adaptam rapidamente à vida marinha, aprendendo a nadar por mais tempo e criar laços com os Ilus para usá-los de montaria.
Com uma ‘ajudinha’ de Spider, que parece ter criado um apego gratuito pelo seu (quase) pai, o vilão consegue encontrar Jake após queimar várias aldeias e matar Tulkuns sagrados na região. Sem ao menos incomodar por suas longas 3 horas de duração, o filme avança para o confronto final, entregando tensão e, particularmente, muita emoção. A presença dos filhos jovens demais para lidar com uma guerra colossal dá ainda mais peso à trama, que finaliza de forma impactante, deixando um gostinho de que vem mais por aí.
Foram 13 anos para sair essa continuação. Será que realmente valeu a pena toda a espera? A resposta pra mim é ‘sim’. Aprimorar e tornar realidade um universo inteiro criado exclusivamente para o Avatar não é uma tarefa simples, ainda mais se tratando de um diretor que exala perfeccionismo técnico. Se o tempo de dedicação à obra foi o ponto de crítica do público, por que não lembrar de George Lucas na saga Star Wars (42 anos) e até George R.R. Martin na literatura com As Crônicas do Gelo e Fogo (34 anos - e contando...)?

Essa demora não é por enrolação. No Avatar: O Caminho da Água, James Cameron e sua equipe desenvolveram uma tecnologia de captura de movimentos subaquáticos, com sensores adaptados e um novo tipo de câmera 3D, além de criar um sistema de simulação de água inédito chamado Loki para expandir o universo de Avatar.
Mas se a reprovação foi com o roteiro por ser ‘fraco’, esse critério deixa de lado o conjunto de elementos que compõem uma arte cinematográfica: a imagem, o som, a atuação e atmosfera do filme - e isso, de certa medida, já constrói uma profundidade narrativa em Avatar.
Apesar do roteiro realmente apresentar conveniências e parecer ‘simplista’, Avatar está longe de ser raso, pois consegue entregar complexidade simbólica na própria composição das cenas. Para além do aspecto contemplativo, Avatar 2 também é poderoso à medida que serve como crítica à exploração colonial e à idolatria humana pela tecnologia, que busca extinguir tudo aquilo que é orgânico e originário.
Em uma indústria cada vez mais decadente de criatividade artística e visual que prioriza a quantidade em detrimento da qualidade (a Pixar sabe bem o que é isso), Avatar consegue impactar o mundo com seu universo mitológico recheado de significados e tecnologias revolucionárias para a indústria do cinema. No dia 19 de dezembro, poderemos vivenciar mais um capítulo dessa experiência audiovisual - mais uma vez com novas ameaças e mais expansão de universo.




