CRÍTICA | O Brutalista é o simbolismo do mármore perfeito
- Victor Lee
- 20 de fev.
- 5 min de leitura

Bom, você deve estar se perguntando como se faz uma ótima base para a construção de uma casa, certo? Primeiro, é necessário que o terreno seja analisado e nivelado para garantir estabilidade. Em seguida, define a área da fundação e cava as valas para os alicerces. Após esse procedimento, será feita a instalação das estruturas, o concreto para formar a base. Por fim, é só curar e fazer impermeabilização, neste caso, o concreto seca e recebe proteção contra umidade antes da construção das paredes. Mas esse trabalho a gente deixa nas mãos de um Brutalista.
Porém, o que seria esse tal de Brutalista? Esse termo é um dos principais estilos arquitetônicos que surgiu entre as décadas de 1950 e 1970, caracterizado pelo uso de concreto aparente, formas geométricas robustas e um design funcionalista. Já esse termo vem do francês béton brut, que em tradução livre é concreto bruto.
Sendo assim, posso te apresentar um dos principais Brutalistas do mundo. Nascido em Pilisvörösvár, Hungria, no ano de 1938, o László Toth sobreviveu a mal bocados após fugir da sua cidade natal devido à guerra em busca de um novo começo na América do Norte. A cinebiografia realizada no ano passado chega às telonas para contar e narrar a trajetória de Toth.

O filme se passa em 1947 e acompanha um arquiteto húngaro que chega à América para reconstruir seu legado e testemunhar o surgimento do modernismo. Com a oportunidade de trazer sua esposa Erzsébet, ele vê sua vida transformada ao receber uma proposta de Harrison Van Buren, um industrial rico. Esse convite lhe oferece o "sonho americano": projetar um grandioso monumento modernista que moldará a paisagem do país que agora chama de lar.
Esse projeto tão ambicioso representa o auge da carreira de László, prometendo levar ele e Erzsébet a novas alturas de sucesso e reconhecimento. No entanto, o caminho para a realização de seus sonhos é repleto de desafios e reveses inesperados, que os levarão a enfrentar tanto triunfos quanto tragédias ao longo de quase três décadas.
O enigma da Chegada
O primeiro ato da Obra de Brady Corbet que além de ser o diretor e roteirista em conjunto com Mona Fastvold é recheado de informações e um turbilhão de emoções devido o Holocausto que foi um genocídio sistemático de cerca de seis milhões de judeus pela Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Fatores que levaram muitos grupos a serem perseguidos e assassinados, como ciganos, pessoas com deficiência, opositores políticos e homossexuais.

Ainda nos minutos iniciais, é interessante ver como o roteiro consegue trabalhar a religião, a imigração e o sofrimento das pessoas sem muitas falas. Até a entrada László Toth nesse grande sonho americano após tanto ódio e intolerância que sofreu com seu povo.
A sua chegada é apresentada com um mundo novo, algo muito bem direcionado e mesmo com tantas dúvidas é possível ver a esperança do Brutalista já enfrentando alguns obstáculos com trabalhar por uma moradia, pegar filas para se alimentar, ficar longe das pessoas que ama, além do medo trazido da Europa por conta da guerra.

Um dos pontos altos do primeiro ato é, sem dúvidas, a atuação de Andrey Brody que em meio às fumaças, drogas e concretos esboça um desenho para ganhar o Oscar de melhor ator e repetir o feito em 2003. Brody traz um lado doloroso, frio e calculista do arquiteto, sem esquecer da sua brilhante mente em projetar e fortalecer sua cultura fora do seu país.
Outro que surpreende Guy Pearce que interpreta Harrison Van Buren, seu personagem é cercado por pessoas ricas e pelos seus filhos Harry Lee (Joe Alwyn) e Maggie Lee (Stacy Martin) que sempre estão do seu lado ajudando ou não os negócios da família. O seu contato com László Toth na primeira vez é bem conturbado, mas durante todo o filme essa conexão vem sendo trabalhada de forma ambiciosa e maldosa, mas claro que tudo através de uma fachada de carisma e herói da pátria por “salvar o arquiteto e sua família”.
O Poder e a Ganância
Após se estabelecer e conquistar novamente o seu cargo, Laszlo Toth tem que enfrentar um dos melhores e piores momentos da sua vida. Para quem não tinha nada quando chegou na América, agora está a todo vapor em um novo projeto e a espera da sua sobrinha e esposa mudaria a chave de tudo ao seu redor.

Neste segundo ato e após os quinze minutos de intervalo podemos ver mais da sua história com sua esposa a interpretação da Felicity Jones como Erzsébet Tóth, esposa de László é surreal. A sua dor, saudade, sofrimento e as angústias de está longe do seu marido são colocadas à tona de uma forma angustiante pela atriz, ela expressa e carrega boa parte do segundo ato demonstrando a força que a Erzsébet teve para a ascensão do seu marido.
Atrelado com a atuação do trio principal, o filme nos leva para as mais dolorosas e bizarras experiências vividas pelo brutalista e sua família, o poder e a ganância de Harrison, sem dúvidas, molda e assombra o dia a dia de Tóth devido as mentiras e as pressas para a construção da tão moderna e fiel obra do arquiteto levando sua visão para o mundo todo.
O mármore perfeito
É claro que um filme indicado ao Oscar precisa ter uma fotografia de respeito, mesmo que algumas indicações geram controvérsias. A fotografia da obra de Corbet é extremamente bruta, específica e visualmente impactante, conquistando a cada ato e cena. Mesmo com poucas cores vibrantes, cada traço do filme se destaca, como um mármore escolhido a dedo.

A busca pela perfeição ou imperfeição está fortemente ligada às ideologias profissionais do protagonista. Isso fica evidente no último ato, quando a Bienal de Arquitetura de 1980 consagra seu nome como um gênio do estilo Brutalista, tornando-se uma referência teórica até hoje nas grandes faculdades. Mesmo com o terceiro ato muito rápido em comparação com os outros primeiros é possível ver a grande constância na atuação do Brody.
O Veredista

Por fim, O Brutalista é uma obra rara de concreto: brutal, realista e dolorosa, destacando grandes atuações e consolidando seu favoritismo ao Oscar. Além disso, leva ao mundo a história de László Tóth e sua principal obra, que revolucionou a arquitetura moderna. Sua fotografia e roteiro resgatam a realidade e o simbolismo da força de um homem que só queria construir e mostrar sua visão arquitetônica.
O filme é uma ótima escolha para quem deseja conhecer a vida de Tóth, mas também para quem busca uma experiência cinematográfica marcante. Apesar da fama de ser um longa extenso, a atuação de Brody e Felicity, aliada à excelente direção de Brady Corbet, faz o tempo passar sem que se perceba.
Nota: 4/5 🏘️🏗️🗜️📐
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