CRÍTICA | Thunderbolts* um asterisco que faltava na Marvel
- Victor Lee
- 1 de mai.
- 5 min de leitura
Atualizado: 11 de mai.

Após grandes batalhas espaciais, destruições na Terra e ameaças vindas de outros universos, o ciclo da Marvel se reinicia e tenta se reerguer a todo custo com filmes e séries que, infelizmente, não vêm agradando os fãs. Com os pés no chão e um asterisco na mente, Thunderbolts* traz personagens, ou melhor, uma equipe controversa formada por anti-heróis com potencial para reerguer a moral do MCU no cinema.
A conta a origem da formação de uma equipe* de anti-heróis recrutada para uma missão perigosa. Yelena Belova (Florence Pugh), Bucky Barnes (Sebastian Stan), Guardião Vermelho (David Harbour), Fantasma (Hannah John-Kamen), Treinadora (Olga Kurylenko) e Agente Americano (Wyatt Russell) formam um grupo de desajustados e rejeitados que, pegos numa armadilha pela diretora da CIA, Valentina Allegra de Fontaine, são obrigados a embarcar em um plano que os fará confrontar seus maiores traumas e cicatrizes do passado.
A equipe possui um histórico de manipulação, violência e traição, o que coloca em dúvida sua confiabilidade e estabilidade diante de ameaças que exigem lealdade e autocontrole.
Apesar de suas habilidades excepcionais, todos enfrentam um passado carregado de culpa e manipulações. A trama sugere um conflito que envolve simultaneamente redenção e autodestruição. Será que esses anti-heróis conseguem superar seus traumas e agir como heróis, ou estão fadados a repetir seus erros e entrar em colapso como grupo?
O vazio dos Herois

Um dos pontos mais interessantes abordados no filme é a discussão que o estúdio se propõe a fazer sobre transtornos mentais, como a depressão. Condição essa que pode se traduzir em uma tristeza profunda e com a perda de interesse ou prazer em atividades rotineiras. Isso é reforçado pelo monólogo inicial de Yelena, a protagonista do filme.
Para quem já assistiu Viúva Negra (2021) e conhece os acontecimentos de Endgame (2019), sabe muito bem do que estou falando. O passado de perdas de Yelena, se transforma em um grande peso na sua vida, já que ela é obrigada a lidar com o assombro dos fantasmas do passado no decorrer do seu dia a dia.
Com esse gancho, nós, como telespectadores, começamos a nos perguntar: se os heróis são aqueles que nos salvam, quem salva os heróis? Partindo do pressuposto de que eles têm habilidades e poderes, presume-se que devam se salvar — ou algo nesse sentido.

Em Thunderbolts, a ideia de explorar os medos, erros e defeitos (mais que defeitos, traumas) de cada personagem, para que assim uma redenção seja possível, é visionária. Neste caso, o filme consegue mostrar que uma equipe* — ou tentativa de grupo — pode, sim, ser uma salvação para eles mesmos e para o mundo como um todo.
Além de Yelena, esse problema perpassa por boa parte da equipe, como o Agente Americano, que mancha sua própria imagem e vê tudo ao seu redor desmoronar por consequência disso. Dentro do núcleo familiar da nova viúva negra, o próprio pai de Yelena carrega o fardo de se sentir escanteado por não ter mais trabalhos.
Outro grande destaque do filme é Robert Reynolds (Lewis Pullman), o Bob, que entrega uma ótima atuação, conseguindo mostrar a tristeza de seu personagem em meio ao contraste com o humor. Nos quadrinhos, Robert é o Sentinela, um dos personagens mais fortes do universo Marvel e que possui uma espécie de segunda personalidade. No filme, esse aspecto é trabalhado de maneira bem criativa, o que contribui bastante para o desenvolvimento da equipe* e do próprio Bob.
Mesmo com esse lado vazio ou “vácuo” (tema central que será mencionado várias vezes no filme), a trama não se perde em seu maior feito: a ação, porradaria e humor.
O Medo de Errar é o principal vilão?
Nos últimos anos o medo de errar ou de apresentar algo novo e sair da fórmula tem sido umas das principais críticas à Dona Marvel e um dos pontos que poderia ter sido mais elaborado e assim abraçar a criatividade e a ideia de forma total seria sem dúvidas umas das melhores coisas já feitas em Thunderbolts*.

Mas calma, o filme ainda é um dos melhores produzidos pela empresa nos últimos anos. A obra traduz uma ideia que se consolida com o real e o imaginário, ou seja, trabalha um tema global e importante dentro da dinâmica de um filme de super herois. Vamos ser sinceros, já está na hora do gênero discutir mais assuntos dessa natureza, mas sem perder sua essência e suas principais características, a fantasia e a ação.
O roteiro é direto em relação ao vilão do filme. Apesar de um sentimento de “quero mais” ao sair da sala de cinema, o texto amarra as linhas narrativas sem deixar pontas soltas. Desde a origem do antagonista até o desenvolvimento com os protagonistas é detalhado e explicado.
A Não Equipe*
Assim como outras grandes equipes do universo, como os Vingadores e os Guardiões, a construção da dinâmica entre cada personagem vai sendo trabalhada, e, a partir de um acontecimento maior, os laços entre eles acabam se tornando mais fortes. A conexão entre cada integrante se torna uma das partes mais divertidas da trama, fortalecendo a narrativa e trazendo de volta algo que parecia ter se perdido.

A dinâmica entre Yelena e Bob é significativa de acompanhar, pois acaba sendo a fagulha para um acontecimento importante na história, assim como sua relação com Alexei Shostakov, o seu pai, que reforça o tom cômico da trama. Yelena é o elo de conexão entre todos os personagens nesse filme.
Um dos pontos que com menos destaque é a abordagem da mente de Bucky e sua relação com os demais. A sensação é de que ele é o único que consegue manter uma constância de presença, e, ainda assim, parece ausente. Apesar disso, todos conseguem mostrar seu valor e comprovar que são, de fato, bons soldados de aluguel.
O Veredito*
Thunderbolts* está longe de ser um filme de origem, mas de desenvolvimento de personagens, ainda mais quando se trata de anti-herois e vilões. Criativo, bem montado e com ótimas cenas de ação, é possível acreditar de fato que teve um planejamento para que tudo saísse de forma concreta e com coesão. Em contrapartida, o filme peca em optar pela superficialidade e abdicar do aprofundamento em questões importantes na trama. A decisão não diminui o impacto da obra, mas a impede de se tornar maior.

Com humor, carisma, um roteiro centrado e uma boa montagem, o time* Thunder se destaca dos outros filmes da Marvel, confirmando que é possível fazer uma produção interessante para os fãs sem deixar de explorar as macro questões do MCU, como toda a bagunça do multiverso.
Nota: 3/5
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