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CRÍTICA I Ghostbusters: Apocalipse de Gelo traz nostalgia do passado, mas sem visão de futuro

Atualizado: 8 de jun. de 2024


Ghostbusters

40 anos depois do lançamento do primeiro filme, é difícil encontrar alguém que não saiba responder a famosa frase “who you’re gonna call?” com um animado e nostálgico “Ghostbusters”. O filme foi um marco no cinema dos anos 80, tendo sobrevivido ao teste do tempo e deixando uma leva de fãs cheios de saudade dos heróis vividos por Bill Murray, Dan Aykroyd, Ernie Hudson e Annie Potts.


E como o retorno de histórias clássicas vende a rodo no cinema, era só questão de tempo para os Caça-fantasmas voltarem às telonas. A primeira tentativa aconteceu em 2016, com o lançamento de um reboot protagonizado por uma equipe feminina. O filme não vingou e acabou sendo um enorme fracasso.


A segunda tentativa veio em 2021, com “Ghostbusters: Mais Além”. Nesse filme, conhecemos uma nova leva de personagens principais, focados na família disfuncional formada por Phoebe (McKenna Grace), Trevor (Finn Wolfhard), Gary (Paul Rudd) e Callie (Carrie Coon). Dessa vez, os novos Caça-fantasmas foram mais bem recebidos pelo público, que sentiu o começo de uma transição da equipe nostálgica, para um time com novas histórias. 


Depois do relativo sucesso de “Mais Além”, os protagonistas retornam para uma sequência. O diretor do filme anterior, Jason Reitman, assume agora o papel de roteirista, enquanto o antigo roteirista, Gil Kenan, passa a dirigir “Apocalipse de Gelo”. A diferença é sentida principalmente no tipo de entretenimento trazido, que substitui o clima sombrio do primeiro longa por uma construção divertida e engraçada. 


Os Spengler


Homenageando o falecimento de Harold Ramis, ator que deu vida a Egon Spengler nos filmes originais, a história é centrada na família da filha de Egon, Carrie Spengler. Apesar do clássico pôster heroico de cabeças flutuantes dar a impressão de que o protagonista é Paul Rudd, a verdadeira personagem central  da trama é Phoebe, a filha mais nova da família. Entre crises de adolescente e uma vontade imensa de ser uma Caça-fantasmas, quase todas as situações no filme surgem a partir de alguma ação dela.


Ghostbusters foto 1
Foto: Divulgação/ Sony Pictures

Na tentativa de desenvolver a personagem de McKenna Grace, é importante dizer que o filme deixou de lado os outros três membros Spengler.Trevor, por exemplo, teve uma trajetória fraquíssima que se resume ao sentimento de ser adulto aos 18 anos e ao embate com um fantasma específico — que ele nem sequer captura. Talvez pelo excesso de personagens, ou talvez pela atenção dada a narrativas que não frutificaram, muitas figuras foram mal aproveitadas, não conseguindo  a atenção necessária para colaborarem com a história. 


Mas, se a expectativa para uma sequência de Ghostbusters é a nostalgia, essa o filme cumpre e muito bem. Com as participações de Bill Murray, Dan Aykroyd, Ernie Hudson, Annie Potts e William Atherton, os fãs da franquia tiveram diversos momentos daqueles que aquecem o coração, em ver os personagens iniciais novamente vestidos com o clássico uniforme, lutando na estação de bombeiros que nesse filme volta a ser o lar da família.


“Apocalipse de Gelo” fez questão de trazer muitas referências, incluindo até mesmo trechos dos primeiros filmes e dando aos protagonistas iniciais momentos impactantes. É emocionante ver todos os antigos Caça-fantasmas reunidos e com certeza os fãs que buscam esse gostinho saem felizes da sala de cinema.


Ghostbusters foto 2
Foto: Divulgação/ Sony Pictures

I ain’t afraid of no ghost


Ao longo da trama, Phoebe desenvolve algumas narrativas diferentes, sendo uma delas a clássica quebra entre o mundo dos vivos e dos mortos, trazendo uma personagem corajosa e irreverente. O problema é que a ideia parte de uma tentativa estranhamente realizada de trazer um romance nas entrelinhas do filme, em uma relação que não funciona bem, e não consegue fazer com que o público torça para o casal.


No geral, o relacionamento faz com que Phoebe tome decisões que afetam profundamente todo o grupo, mas que não trazem consequências concretas para a personagem. No fim, ela acaba sendo abraçada sempre pela clássica família do Paul Rudd pai — cuidadoso, engraçado, paternal e em busca de construir uma relação próxima com os filhos. Apesar da construção falha do romance, o desfecho dele consegue emocionar, amarrando pontas soltas e deixando um sorriso no rosto de quem assiste.


Após a derrota de Gozer em “Mais Além”, o foco do longa gira em torno do vilão Garakka, um deus mítico com poderes de gelo. Da primeira cena até seu aparecimento, o filme desenha uma construção muito boa para o personagem, o colocando como uma figura imponente, misteriosa e verdadeiramente assustadora, em uma explicação lúdica e instigante do personagem de Dan Aykroyd, que analisa a força paranormal de objetos. É dele que vem a primeira conexão com a saga original, como um personagem que ainda está conectado à sua época de Caça-fantasma. 


Apesar disso, quando Garakka verdadeiramente aparece, a experiência é decepcionante. O vilão promete muito, mas passa a sensação de ser exatamente o mesmo de muitos outros filmes, com um visual sombrio completamente genérico. É a mesma premissa do clássico “destruidor de mundos” — e, por “mundo”, leia-se Nova York —, como o Garakka é chamado pelo próprio Gary no filme.


E se Garakka passa uma impressão de ser muito mais do que realmente é, no confronto final isso se confirma: em uma luta que parece mais ser um anticlímax do que um clímax, a sensação que fica é de que sua derrota é fácil, sem muita tensão e até com certa comédia envolvida. Falando em derrota, o filme também passa a impressão de que, ao resolver o problema principal, os personagens fecham os olhos para todas as outras situações, deixando muitas pontas (e fantasmas) soltas por aí.


Ghostbusters foto 3
Foto: Divulgação/ Sony Pictures

Falando em comédia, cabe aqui um acerto do filme: o personagem do vencedor do Oscar Kumail Nanjiani, que atua como antagonista de Garakka. Representando um alívio cômico capaz de tirar algumas risadinhas do espectador pela sua inexperiência, mas disposição frente aos desafios, Nanjiani cumpre bem seu papel, e acrescenta muito ao filme como um todo.


Veredito


“Ghostbusters: Apocalipse de Gelo” é um filme bom de assistir — mas não está à altura do nome que carrega. Para os que vão ao cinema com uma expectativa de nostalgia, o longa promete alguns sorrisos e risadas satisfeitas, mas nada além disso, já que não se sustenta em criar uma nova trajetória para a família Spengler. É uma homenagem bonita aos Caça-fantasmas do passado, e um filme divertido de se ver. Só não se pode dizer que é uma construção digna para os Caça-fantasmas do futuro, porque a força do filme não está nele, e sim na saga que o inclui.


Nota: 3/5



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