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CRÍTICA | GOAT tem um brilho superficial de uma metáfora oca

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A busca pelo máximo e pelo topo é intrínseca à natureza humana. Nossas vitórias, glórias e conquistas servem como a manifestação desse desejo de poder e excelência. Essa aspiração tem raízes profundas, remontando à Grécia Antiga, onde o ato de ser vitorioso era encapsulado pela palavra Nikaō (νικαωˊ) e pelo substantivo Nikē (Nˊικη), que significam, respectivamente, vitória, conquista e triunfo. Tão vital era o conceito que Nike (Nˊικη) se tornou a deusa da vitória e da glória na mitologia grega. Essa ideia de superação, no entanto, transcende o campo de batalha, encontrando eco no Novo Testamento da Bíblia, onde o termo "nikaō" é empregado para simbolizar a vitória dos crentes sobre o mal, o pecado e o mundo, alcançada através da fé em Cristo. Com a  necessidade desse triunfo e vitória, criou-se a máxima que define a excelência suprema: GOAT — a sigla para "Greatest Of All Time", que em português significa "O Melhor de Todos os Tempos" ou "O Maior de Todos os Tempos", a encarnação moderna daquele desejo ancestral de alcançar o cume da vitória. Dessa forma mergulhamos em GOAT, dirigido por Justin Tipping e produzido por Jordan Peele, acompanha Cameron Cade, um promissor jogador de futebol americano que depois de um acidente causado por um fã que ameaça sua carreira, Cade é acolhido por seu ídolo, o lendário quarterback Isaiah White (Marlon Wayans), para um treinamento intensivo.

No isolado complexo de Isaiah, o treinamento se torna cada vez mais perigoso à medida que o comportamento do mentor se revela tóxico e sombrio. O filme explora o dilema de Cade entre o sucesso e a sobrevivência, alertando sobre os perigos da fama, da idolatria e da busca pela excelência a qualquer custo. Esporte, Família e Deus Um dos principais pontos a serem abordados em boa parte do filme é o elo que liga Cameron ao esporte, à sua família e ao seu lado de superstição que acaba sendo seu lado religioso. Em partes, o primeiro que vemos de cara é o lado familiar da presença da mãe e do seu pai sempre que ele estava treinando, assistindo aos jogos ou durante seus estudos, algo que vai sendo trabalhado em boa parte do filme.

Já no esporte, o filme consegue referenciar muito bem a vida de uma estrela que precisa se reinventar para chegar ao topo. O roteiro, por outro lado, abraça tanto a bizarrice quanto a crítica do que podemos chamar de "Síndrome de Burnout" ou síndrome do esgotamento, e dessa forma descreve todo o núcleo de Cameron com o Futebol Americano.

camaron trainando

Divulgação/Universal Pictures A obra também se arrisca e mostra cada vez mais a sátira e as teorias sombrias de jogadores por trás do sucesso e, sem dúvidas, nos primeiros atos isso acaba sendo bem interessante. Porém, a repetição e o descarte de personagens durante a trama acabam se perdendo e todo esse conceito de "Esporte, Família e Deus" vai virando uma grande alegoria. Em comparação, trago "Pisque Duas Vezes" (2024) ou até mesmo "Corra" (2017), que conseguem fazer com maestria um suspense psicológico assertivo do início ao fim. Dessa forma, o filme até traz um ponto de partida interessante ao focar na jornada de Cameron no futebol americano, explorando a pressão do sucesso sob a perspectiva de três pilares: família, superstição/religião e a carreira. Contudo, a ideia de explorar esses elos foi se tornando cada vez menos colocada em prática, e o filme segue para um enredo (ou desfecho) ainda mais fácil de desvendar, na verdade, esse entendimento fica claro desde os primeiros atos. O GOAT Sem dúvida, um dos maiores acertos desse filme foi a atuação de Marlon Wayans, que novamente consegue trazer um personagem muito caricato e, ao mesmo tempo, misterioso. Aqui, trago o mesmo exemplo do diretor Jordan Peele, com seu jeito único de trazer crítica social em filmes de terror, sendo um gênio na comédia norte-americana. Assim como a atuação de Wayans em “Requiem for a Dream, 2000”, que foi fria, triste e surpreendente, e mesmo que o filme tenha uma iniciativa que prende o espectador, isso se deve ao personagem “Isaiah White”, o VERDADEIRO GOAT.

MARLO

Divulgação/Universal Pictures Isaiah, assim como Cameron, tem seu passado no futebol colocado em prática, mas já consolidado no esporte. É bem intrigante todo o subtópico apresentado durante o filme, e, junto com sua atuação, isso acaba sendo um dos fatores que faz o filme ser frenético e satírico (ou sátira). Ou seja, assim como ele é um dos principais acertos com a sua atuação, o pós-atuação (ou o desenvolvimento posterior do personagem) é sempre algo que fica ao vento e não se faz presente em um roteiro que poderia, sim, deixar pontas soltas, mas, infelizmente, acaba optando por um lado mais preguiçoso, ao meu ver.


Veredito 

Goat filme de 2025

Divulgação/Universal Pictures Por fim, GOAT é uma metáfora oca; sua superfície é interessante, daquelas de "brilhar os olhos", e chega até a enganar por ter um roteiro que prende a atenção até o final. Mas, por dentro, é vazio e se perde na sua própria sátira, mesmo que os protagonistas sejam excelentes na atuação e na dinâmica. O filme esportivo consegue se mostrar maduro nos momentos iniciais, mas vai se perdendo ao longo do processo, sendo colocado em comparação com outros do mesmo gênero e não tão distantes assim.

Infelizmente, o GOAT desse filme não deve ganhar a "Ballon d'Or", mas ainda assim, é interessante ir ao cinema e tirar as próprias conclusões. Afinal, o cinema é como os pontos corridos de um campeonato de 365 dias, e nunca iremos saber o que vai acontecer até o apito final encerrar a partida. Nota: 2.5/5


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