Crítica | Divertida Mente 2 entre razões e emoções
- Victor Lee
- 20 de jun. de 2024
- 5 min de leitura

Cientificamente falando, o nível de organização do corpo humano é formado pelos seguintes componentes: células, tecidos, órgãos, sistemas e organismo. Cada uma dessas estruturas consiste em um nível hierárquico até a formação de todo o organismo. Mas por que falar disso se o que importa são as nossas emoções? Assim, depois de quase 10 anos, Divertida Mente 2 está entre nós (na verdade, sempre esteve).
Nesta nova fase da história de Riley, vamos acompanhar um salto temporal. Agora, está com 13 anos de idade, passando pela tão temida pré-adolescência. Por consequência, junto com seu amadurecimento, a sala de controle mental da jovem também está passando por uma transformação para dar lugar a algo totalmente inesperado: novas emoções.

Reprodução/Walt Disney Studios Motion Pictures
A trama vai nos mostrar a relação das novas emoções com as já conhecidas: Alegria, Tristeza, Raiva, Medo e Nojinho, que, desde quando Riley era bebê, predominam a central de controle da garota em uma operação bem-sucedida,. As antigas emoções não têm certeza de como se sentir e como agir quando novos inquilinos chegam ao local, sendo um deles a tão temida Ansiedade, além de Inveja, Tédio e Vergonha.
Dublagem Original vs Brasileira
A ideia central da dublagem era resgatar os mesmos princípios do primeiro longa, mas de uma forma superior e sofisticada, que deu super certo, encaixando-se perfeitamente no trabalho de voz e enriquecendo os personagens. Assim, temos os elementos principais e já conhecidos pelo público: Alegria (Amy Poehler), Tristeza (Phyllis Smith), Raiva (Lewis Black), Medo (Tony Hale) e Nojinho (Liza Lapira). Destaca-se o brilho de Amy, que desde o primeiro filme traz, não ironicamente, toda a alegria do mundo em sua atuação vocal.

Reprodução/Walt Disney Studios Motion Pictures
As novas emoções ganham destaque, com a Ansiedade interpretada por Maya Hawke (Stranger Things) e a Inveja por Ayo Edebiri (The Bear). Um ponto que me deixou "triste" foi que eu queria ter visto mais da personagem e da voz da atriz, que fez um ótimo trabalho em Tartarugas Ninjas: Caos Mutante, sendo a porta-voz de April O’Neil. O time se completa com Tédio (Adèle Exarchopoulos) e Vergonha (Paul Walter Hauser).
Para quem vai assistir dublado, com certeza vai se impressionar com o trabalho e o carinho dos atores que deram voz às pequenas emoções, como: Miá Mello (Alegria), Katiuscia Canoro (Tristeza), Leo Jaime (Raiva), Otaviano Costa (Medo) e Dani Calabresa (Nojinho), Tatá Werneck (Ansiedade), Gaby Milani (Inveja), Eli Ferreira (Tédio) e Fernando Mendonça (Vergonha) também estão presentes. Todos fizeram uma ótima performance, mas meus preferidos foram Leo Jaime, que novamente deu uma aula de dublagem, e Tatá, que já nasceu com o poder de dar voz à Ansiedade de uma maneira fantástica.
A Razão e a Emoção
Por definição, a razão, em um contexto geral, é um conjunto de conhecimentos intelectuais próprios do ser humano, sendo um entendimento em oposição à emoção. Dessa forma, é a capacidade do pensamento dedutivo, realizado por meio de argumentos e abstrações. No entanto, no filme, isso é quase deixado de lado, pois o grande foco são as emoções.
Sem dúvidas, um dos pontos mais interessantes tanto no primeiro filme quanto no segundo é a relação das emoções e como elas se organizam para tentar sempre resolver os problemas de Riley. A história nos remete constantemente a determinadas emoções e à forma criativa como cada uma delas está sempre em sintonia com a garota no dia a dia.

Reprodução/Walt Disney Studios Motion Pictures
Mas de que forma essa sintonia pode desandar? No primeiro filme, entendemos que as principais emoções nascem e permanecem até o fim da vida. No entanto, mesmo com o controle mental das pessoas, elas não sabem de tudo que se passa na cabeça dela. Daí entra a zona de perigo, ou melhor, o botão da puberdade, que, em tese, é um período de mudanças biológicas e fisiológicas no ser humano, onde tudo vira uma loucura.
Neste novo capítulo da vida de Riley, podemos entender com muita clareza como é um processo de crescimento de uma pessoa e isso é apresentado de forma bem elaborada e criativa, graças ao roteiro de Meg LeFauve (Divertida Mente) e seu parceiro Dave Holstein (Kidding). Eles introduzem as novas emoções com perfeita exatidão nos diálogos, no humor e no entendimento da trama, principalmente durante o uso da mesa de controle, que é a chave de ligação entre a personagem e as emoções que tomam conta da mente da agora pré-adolescente.
A Liderança Laranja

Reprodução/Walt Disney Studios Motion Pictures
Um dos arcos abordados na trama é o impasse entre Alegria e Ansiedade. Sabemos que, até então, Alegria sempre predominou e liderou as emoções de Riley. No entanto, após a nova fase e as novas relações que a personagem formou ao longo da história, podemos ver que o sistema de organização mental estabelecido foi jogado de lado quando as novas emoções começaram a tomar a frente.
Por consequência, entra a querida Ansiedade, que só pensa em “ajudar”. A forma como eles abordam os temas, especialmente o funcionamento das ideias da Ansiedade, é genial e assustador. Com certeza, será um filme em que todos vão se sentir representados em quase todas as cenas. Devido aos planos infalíveis do “furacão laranja”, como: pensar demais no futuro, agir por impulso, não entender alguns problemas e tentar resolver tudo de uma vez. Coisas que acontecem diariamente com qualquer pessoa. Isso fica cada vez mais notório na relação entre as emoções e como tudo acaba caindo no colo da jovem Riley.
Por fim, entender a importância do universo de "Divertida Mente" é compreender que nada será perfeito o tempo todo. Basicamente, nossa mente possui várias camadas que abrangem pensamentos positivos e negativos. Assim, percebemos que Alegria também tem seus momentos de frustração, e Ansiedade tem "boas intenções". Contudo, nem tudo é perfeito nesse mundo, sendo uma representação tão direta do mundo real que às vezes preocupa. Por outra perspectiva, temos momentos emocionantes em relação às crises de ansiedade ou a uma literal onda de memórias negativas que vão se acumulando e sendo jogadas no mar da mente.
A Evolução das Animações
Após quase 10 anos do primeiro longa, é nítida a evolução das animações e do design de produção. Filmes como "A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas" (2021), "Homem-Aranha no Aranhaverso" (2018), "Red: Crescer é uma Fera" (2022), "Soul" (2020) e até mesmo "Toy Story", que sempre se renovou, exemplificam essas mudanças. Em "Divertida Mente 2", isso fica claro: é interessante e agradável ver as cores mais vivas, os movimentos e os traços de cada personagem que, mesmo com grandes modificações, mantêm a essência do filme de 2015.

Reprodução/Walt Disney Studios Motion Pictures
Junto com a evolução das animações, veio o grande desafio para o diretor Kelsey Mann, que não só teve que recriar tudo do zero, mas também estrear em um momento decisivo para a história da Pixar e da Disney. Outro ponto trabalhado é o uso das cores e os formatos de cada personagem, especialmente os novos. De acordo com Jason Deamer, designer de produção responsável pelo longa, Ansiedade é laranja com uma linguagem de formato elétrico; Vergonha é rosa, uma cor suave que evoca reticência e timidez; Tédio tem a postura de um macarrão mole; e Inveja tem cor azul-petróleo e um formato menor, de cogumelo brotando, que se justapõe ao restante do elenco.
Assim, é possível ver a sinceridade e o cuidado tomados tanto pelos roteiristas quanto pelo diretor e toda a equipe para entregar um ótimo filme, uma linda explosão de cores e sentimentos que nos deixam sem reação ao sair da sala de cinema.
Veredita Mente!

Reprodução/Walt Disney Studios Motion Pictures
"Divertida Mente 2" é incrível! Ele consegue ser auto explicativo, divertido, criativo, emocionante e lindo em sua mensagem. O longa acerta em quase tudo e não tem medo de abordar um tema mais maduro, abrindo espaço para conversas mais complexas. Os embates entre Alegria e Ansiedade nos fazem entender que ninguém é perfeito, e isso é normal. É fantástico ver o progresso e o crescimento dos personagens dentro e fora da mesa mental, compreendendo que a razão sempre virá acompanhada pela emoção.
Nota: 4.5/5 😃😡😱🤢😭😪😳🥺🤯
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