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CRÍTICA | ‘Invocação do Mal: O Último Ritual’ encerra a franquia de forma medíocre


Quando se fala sobre família, já é um consenso saber que amar também é deixar ir. Assim como uma mãe que vê seu filho deixar seu lar para seguir o próprio rumo, a vida também é repleta de outros momentos de renovação, fins de ciclo que dão espaço para o início de outros. Na franquia de terror Invocação do Mal, o tema família sempre foi usado como força motriz em seus filmes e agora, em seu quarto e último filme, finaliza a história exatamente da forma como começou. No entanto, o que poderia ser um elogio se torna um carimbo de mediocridade.


Em Invocação do Mal 4: O Último Ritual (2025), a história volta para contar o último capítulo da história do casal de demonologistas Ed (Patrick Wilson) e Lorraine Warren (Vera Farmiga). Durante o período em que decidem parar com os casos paranormais, uma família da Pensilvânia é atormentada por uma assombração que possui uma relação profunda com os Warren e os colocam na posição de reviver traumas do passado. Ed e Lorraine então se veem obrigados a encarar seus maiores medos, colocando suas vidas em risco em uma batalha final contra forças malignas.


A sinopse resume a trama encontrada no quarto filme, mas poderia se adequar aos dois primeiros longas da franquia, já que o terceiro foge um pouco à regra. Fato é, existe uma fórmula já cristalizada no ‘Invocaverso’. Esse modo de fazer é seguido à risca, tanto no roteiro de James Wan quanto na direção de Michael Chaves. Não que fórmulas sejam o sinônimo de podridão, mas o conceito perde sua força quando é repetido à exaustão e, além disso, encontra uma execução inferior aos antecessores.


Invocação do Mal 4: O Último Ritual

Invocação do Mal sempre foi uma franquia a qual eu denomino como “terror para a família”. Ou seja, filme de terror para quem gosta de se manter na superficialidade do gênero, tomando alguns poucos sustos com as entidades e depois se deliciar com um final aconchegante, como se recebesse uma recompensa por se colocar em uma posição de ‘enfrentar o mau’. Não posso julgar quem assiste com essa finalidade, já que os dois primeiros filmes foram minha introdução ao gênero e têm um carinho especial deste autor, mas é preciso mergulhar em águas mais profundas para não cair na mediocridade.


Dentro desse contexto de reciclagem, a direção é a principal culpada pelo potencial não explorado. Permita-me uma provocação. O quarto filme supõe que o espectador tenha assistido aos outros três primeiros filmes da franquia. Ou seja, uma pessoa que tenha contato com o terror apenas com os longas (pode incluir os spin-offs, apesar de não acrescentarem tanto em qualidade) vai ter uma noção clara da repetição. Michael Chaves reutiliza planos que deram certo anteriormente, o que perde o impacto nas cenas de susto.


Falando em planos, afirmo categoricamente que não há um único plano memorável neste filme. A cena dos espelhos poderia ser considerada, mas no final se torna mais uma adição à lista de ideias copiadas de outros filmes, como Evil Dead. Majoritariamente, Chaves esquece de seu poder sob a câmera e resolve apenas reproduzir as convenções do gênero. A colcha de retalhos vai se tornando cada vez mais aparente com o decorrer das duas horas e 15 minutos e o próprio texto assume sua incapacidade de ir além em um diálogo que expõe seu objetivo: “As pessoas só querem se divertir”.


Invocação do Mal 4: O Último Ritual

Outro fator negativo são as entidades que assombram as vidas das personagens. Desta vez, o inimigo a ser combatido está relacionado diretamente com Judy Warren (Mia Tomlinson), filha do casal. Dentre todos os espíritos e demônios presentes, há apenas uma aparição marcante. Infelizmente, esse destaque fica para uma personagem de outro filme da franquia, já que os novos antagonistas são genéricos e esquecíveis, quase como uma cópia de outros longas de terror. Inclusive, existe uma cena do segundo filme que é repetida duas vezes.


No entanto, nem só de coisas ruins se faz um ‘Invocação do mal’. Neste quarto filme, o tema da família é novamente explorado, agora com a adição da filha do casal e de seu namorado, Tony Spera (Ben Hardy). Os dois servem como uma forma de renovação à franquia, que poderia continuar a partir dessa nova dupla. De forma contraditória, ambos possuem mais destaque separados, mas ainda possuem momentos de química em tela. Já os demonologistas principais perdem protagonismo, mas ainda têm forte presença. Cada um deles com novos dilemas a enfrentar.


Invocação do Mal 4: O Último Ritual

Apesar de se aceitar como mais filme genérico de terror, a experiência como um todo finaliza a franquia de forma satisfatória. Mesmo com as ressalvas já descritas, o destino dos personagens tem coesão com a proposta do universo e fecha as portas com mais um final de valorização aos laços familiares. Outro ponto positivo é a decisão de abordar a má fama do casal, aspecto pouco explorado nos filmes anteriores. Ao mesmo tempo em que ajudavam muitas famílias, os Warren acumulavam acusações de abandono e de serem charlatões.


No final, ‘Invocação do Mal 4: O Último Ritual’ é o reflexo de uma franquia que se perdeu em meio às suas próprias convicções. Se no início existia um encanto, agora jaz apenas um fantasma que assombra os amantes do terror e serve como uma lembrança de uma época onde a história do casal Warren rendia boas histórias. Se serve de consolo, pelo menos chegou ao fim. E ainda bem que acabou.


Nota: 2/5



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