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Ouriço destruidor de deuses: A bizarra trajetória de Sonic nos anos 2000

Atualizado: 8 de jun. de 2024

Durante dez anos, o personagem deixou de lutar contra o Dr.Eggman para vencer monstros com poderes divinos


Sonic e os deuses
Foto: Reprodução/ Artur Soares

Criado em 1991 como uma forma da Sega bater de frente com o Mario, Sonic se tornou um dos personagens mais influentes dos videogames e da cultura pop. Em sua primeira aventura lançada para o Mega Drive, controlamos o herói super veloz para deter o vilão Doutor Ivo Robotnik, também conhecido como Eggman, que havia sequestrado os animais da ilha onde o protagonista vive, para transformá-los em escravos robôs.


O primeiro jogo foi um sucesso, arrecadando cerca de 4,34 milhões de cópias vendidas. Após um sucesso estrondoso e ter sido responsável por fazer a Sega liderar o mercado de videogames, não demoraria muito para o personagem ganhar novos títulos. O mascote liderou uma extensa lista de sequências, incluindo spin-offs e derivados. Porém, os jogos principais sempre seguiam o mesmo padrão de estética e jogabilidade. Isso mudou completamente em 1998, com o lançamento de Sonic Adventure.


Considerado ainda hoje como um dos melhores jogos do ouriço, Sonic Adventure reformulou por completo o que define um jogo do Azulão. Com um mapa 3D explorável, a história mais profunda da franquia até então e um level design totalmente diferente, o jogo conseguiu ser totalmente diferente em comparação aos seus antecessores, inclusive no seu vilão. Foi a partir desse ponto que a Sega deixou de lado a ideia do Eggman ser o vilão principal e deu início a uma estranha fase na história de seu mascote.


meme robotnik
Foto: Reprodução/ Internet

Hoje, o Moqueka vai te contar a história da Dark Era de Sonic e como o mascote deixou de lutar contra um cientista engraçado para batalhar contra bestas gigantes que lembram anjos biblicamente acurados.


As mudanças feitas por Sonic Adventure


Em 1996, a Nintendo havia lançado o jogo que mudou a indústria dos games por completo. Com um 3D revolucionário para época e um mundo aberto totalmente explorável, Super Mario 64 é um divisor de águas. Após o sucesso de sua publicação, todas as empresas queriam tentar repetir ao menos uma fração do sucesso do encanador italiano, incluindo a Sega. Depois de 5 jogos principais lançados, diversos spin-offs e 7 anos de existência, os desenvolvedores decidiram que a franquia deveria passar por certas reformulações.


Todavia, a Sonic Team sabia que não poderia simplesmente transportar as aventuras do ouriço para um mundo com três dimensões. Essa transformação não funcionaria se não houvesse algumas mudanças no que define um jogo do Sonic. O público que tinha jogado os primeiros títulos havia crescido. Desse modo, a franquia decidiu que iria acompanhar a mudança dos consumidores e começou a focar em uma nova faixa etária. As mudanças começaram pelos visuais, com todo o elenco sofrendo reformulações que permanecem até o dia de hoje.


Foto: Reprodução/ Sonic Adventure
Foto: Reprodução/ Sonic Adventure

A maioria dos personagens ficaram mais altos para encaixarem melhor naquele novo estilo de mundo e os animais antropomórficos ficaram com uma aparência menos infantil, para condizer com o novo público. Essa mudança também casou com a nova ambientação. O novo Sonic não se passava apenas em paisagens naturais, pelo contrário, a principal localidade onde a trama se desenvolvia era a cidade de Station Square. Diferente da era clássica, as áreas urbanas não eram fruto da intervenção do vilão, mas apenas uma das diversas áreas do mapa.


Além da estética, outra grande mudança foi em relação a história. Foi só a partir dessa produção que o roteiro começou a realmente ser um ponto de foco da equipe de desenvolvimento. Cada personagem tinha suas motivações e arco de desenvolvimento próprio. Esse melhor tratamento na história acabou sendo refletido em seu vilão. Assim como nos games da década de 90, o doutor também estava com um plano de dominação global, porém, ele não seria o confronto final enfrentado pelos protagonistas. A ameaça principal desse jogo era Chaos, o Deus da Destruição. Era a primeira vez que Eggman não seria o último chefe, função que tinha desempenhado em todos os jogos principais da saga e na maioria dos spin-offs.


Um novo tipo de ameaça


Em Adventure, somos apresentados aos Chao, uma raça de pequenos espíritos aquáticos que viviam no santuário das esmeraldas. Quando um pequeno Chao entrou em contato com a Esmeralda Mestre, ele sofreu uma mutação e se tornou Chaos, uma criatura antropomórfica feita de água. A partir daquele momento, Chaos se tornou o guardião de sua espécie e das esmeraldas. Quando o santuário foi invadido e seus companheiros são machucados, a criatura foi tomada pelo ódio e absorveu o poder das sete esmeraldas, se tornando Perfect Chaos, um dragão gigante capaz de inundar o planeta inteiro. Os invasores foram dizimados e os poucos sobreviventes nomearam o monstro como Deus da Destruição. O dragão só cessou sua destruição depois que foi selado dentro da Esmeralda Mestre.


Foto: Reprodução/ Sonic Adventure
Foto: Reprodução/ Sonic Adventure

Após ser libertado quase 3.000 anos depois, o monstro aquático consegue alcançar novamente sua forma perfeita e tenta concretizar a destruição do mundo. Essa foi a primeira vez que a ameaça final não era um cientista bobo, mas sim uma criatura com um poder devastador e que foi considerada como um Deus. A cena em que Chaos inunda completamente a Station Square é uma das mais impactantes da franquia até hoje. Mesmo que os heróis consigam derrotar a besta no final, uma cidade inteira foi destruída, causando milhares de mortes. Com certeza é um dos finais mais sombrios de toda a saga e mudaria por completo o rumo da série.


Em 2001, com o lançamento de Sonic Adventure 2, os padrões estabelecidos em seu antecessor continuaram e foi firmado de vez a nova cara da franquia. Dessa forma, se iniciava oficialmente a era do Sonic Moderno e seu clichê de enfrentar criaturas bestiais no fim de cada game. O monstro dessa vez era o lagarto Biolizard, um projeto do Doutor Gerald Robotnik, o avô de Eggman. A criatura era a primeira tentativa de Gerald em criar a forma de vida suprema para curar a doença de sua neta Maria. A enfermidade da garota a impedia de viver na atmosfera terrestre, o que os obrigou a se mudarem para a colônia espacial ARK. Por conta de sua irracionalidade, o Biolizard foi trancado nos confins do local.


Sendo uma forma de vida quase perfeita, o Biolizard é imortal ao tempo. Ele é encontrado 50 anos depois pelos protagonistas e, após certos acontecimentos da trama, o monstro acaba absorvendo os poderes das sete esmeraldas. Após ser derrotado e as esmeraldas serem anuladas, Biolizard em uma última tentativa de lutar usa a habilidade Chaos Control e se teleporta para a ponta da colônia espacial. Ele se funde com a base da estação e se torna o Finalhazard. Seu objetivo era fazê-la cair em direção ao planeta para concluir o plano de destruição global bolado por Gerald, que havia criado rancor contra a humanidade depois de ser caçado, preso e ver sua neta sendo assassinada.


Foto: Reprodução/ Sonic Adventure
Foto: Reprodução/ Sonic Adventure

Essa nova fase do ouriço enfrentando Kaijus ganharia um novo patamar em Sonic Heroes. Na trama, quatro equipes com diferentes personagens da franquia começam uma aventura para deter os planos do Doutor Eggman, cada uma motivada por suas próprias questões. Ao final da jornada, todos descobrem que haviam sido manipulados e que na verdade estavam batalhando contra o Metal Sonic, que demonstrou ter a habilidade de mudar de forma. O plano do robô era copiar as habilidades de todos, incluindo do próprio Chaos. Depois de obter sucesso, ele se transforma em Metal Madness, uma forma que se assemelha bastante a de Perfect Chaos, porém, feita completamente de metal.


Anos 2000, rock e bestas divinas


Metal Madness era um dragão de metal que lembrava bastante o Mechagodzilla e, embora nem ele e nem o Finalhazard fossem considerados deuses, ambos eram uma demonstração de qual seria o tipo de ameaça que os heróis iriam enfrentar dali para frente: Criaturas enormes com a capacidade de causar o armaggedon. Uma entidade só daria as caras novamente na franquia em 2005, no jogo estrelado por Shadow the Hedgehog. O grande antagonista da história é Black Doom, o líder da raça alienígena Black Arms. Black Doom e sua espécie se assemelham bastante a demônios, tanto em visual quanto em atmosfera.


Essa semelhança aumenta ainda mais quando o vilão alcança sua forma final, o Devil Doom. Sua forma gigante tem apenas um olho e um par de asas, tendo uma aparência bem demoníaca. Esse design assustador aliado às temáticas e atmosfera do resto da obra fazem com que o game do ouriço negro seja o mais pesado da serie, diferenciando e muito dos outros titulos. Essas decisões, assim como todo o início da era moderna de Sonic, foram influenciadas pelo momento em que foi lançado.



Os anos 2000 é com certeza o ano mais edgy da cultura pop. Nesse período, animes como Tokyo Ghoul, Death Note e Mirai Nikki estavam em alta - quem nunca viu aqueles memes sobre anime não ser coisa de criança em 2012, não é mesmo? - e o rock estava sofrendo seu último grande pico, com bandas como System of a Down e Linkin Park. As crianças se tornaram adolescentes e ansiavam por coisas mais “sombrias”. Esse cenário influenciou diretamente o jogo do Shadow, que reunia tudo o que definia essa era conturbada que foi o início do milênio. O ouriço era um anti herói, usava armas de fogo, tinha uma moral sombria e uma personalidade igual ao do Sasuke, tudo isso ao som de muito rock.


Mesmo após o fracasso de Shadow the Hedgehog, que foi duramente criticado por ser muito diferente dos outros games desse universo, a franquia ainda manteve algumas de suas características, como o uso do rock na trilha sonora - embora bem mais “leve” - e o fato do vilão principal ser uma entidade. Podemos ver o fruto dessas influências em 2006, com a estreia do fatídico Sonic the Hedgehog. O jogo foi lançado de forma prematura e por conta disso sofreu diversas críticas, tanto pelo seus bugs quanto por algumas decisões de roteiro. Todavia, um dos pontos elogiados foi justamente seu vilão, considerado até hoje o mais forte de toda a saga.


Solaris é o deus do sol adorado pelos cidadãos de Soleanna. Sua forma original é de uma pequena chama branca. Depois que se desenvolveu, o Duque de Soleanna ordenou que fosse feito experimentos com ela, pois acreditava que seria possível viajar no tempo com suas propriedades. Entretanto, os experimentos saíram de controle e, após uma explosão, a chama se dividiu em duas partes: Mephiles, sua consciência, e Iblis, seu poder bruto. Com poderes de fogo, Iblis é um enorme monstro imortal com uma aparência demoníaca que, em outra linha do tempo, foi responsável pela destruição do mundo inteiro. Embora não seja tão poderoso quanto sua outra metade, Mephiles também é imortal e possui a habilidade de viajar no tempo, além de ser o único personagem que conseguiu matar Sonic dentro dos games.


Foto: Reprodução/ Sonic The Hedgehog (2006)
Foto: Reprodução/ Sonic The Hedgehog (2006)

Após Mephiles conseguir se fundir mais uma vez com Iblis, eles se tornam Solaris em seu pleno poder. Diferente de antes, o deus do sol surge com uma forma que lembra um seraphim, um dos tipos de anjos descritos na bíblia. Assim como anteriormente, o monstro também é imortal, mas agora ele não é afetado por quase nenhum tipo de ataque. Além disso, o vilão possui a habilidade de alterar a realidade, o tempo e o espaço. Seu objetivo era consumir todas as linhas temporais por completo. Por ser uma forma de vida transcendente que existe em todos os períodos do tempo, foi necessário que os heróis lutassem contra a entidade no passado, no presente e no futuro ao mesmo tempo para que ela fosse vencida. Mesmo após sua derrota, ela não foi destruída, tendo apenas regressado para seu estágio inicial.


Esse foi de longe o maior pico de poder durante toda a série. Depois de passar toda a década de 90 lutando contra um cientista engraçado, Sonic havia se concretizado como um verdadeiro assassino de deuses. Porém, sua carreira como aprendiz do Kratos ainda não tinha acabado. Em Sonic Unleashed, lançado em 2008, o ouriço azul se vê lutando contra a criatura primordial Dark Gaia. O monstro existe desde os primórdios e foi criado pelo desejo do planeta em existir um equilíbrio entre luz e trevas. A entidade é a personificação da escuridão, da noite e da destruição. Em sua oposição, também surgiu o Light Gaia, que é a representação da luz, do dia e do renascimento.


De tempos em tempos, Dark Gaia desperta de seu sono para causar a destruição do planeta. Durante esse período, chamado pelos antigos de tempo do despertar, Light Gaia surge para combater sua contraparte. Caso a entidade de luz vença, ela fica responsável por retornar o planeta a sua ordem natural e caso o monstro de trevas se sobressaia, tudo que resta à população é esperar pelo tempo que Light Gaia volte a ressurgir. Ambos estão presos em um ciclo de destruição e renascimento da Terra. Enquanto está dormente, Dark Gaia reúne energia negativa vinda dos sentimentos ruins dos humanos para que, ao despertar, esteja em sua forma de Perfect Dark Gaia.


Sonic Unleashed
Foto: Reprodução/ Sonic Unleashed

Se Solaris aparentava ser um seraphim, Perfect Dark Gaia se assemelha a um Ophanim, por conta de seus diversos olhos. A aparência bestial é equivalente ao seu poder. Embora não tenha a capacidade de consumir linhas temporais, Dark Gaia é responsável por separar o mundo em diversos pedaços apenas em seu despertar, uma vez que ele fica aprisionado justamente no núcleo da Terra. Além disso, ele é literalmente a encarnação de um aspecto da natureza, sendo dessa forma imortal. Mesmo assim, o ouriço azul conseguiu derrotá-lo. Mais um baita feito para sua lista.


Por fim, uma coisa que vale ser ressaltada é que esse padrão não foi seguido apenas nos jogos principais. Da mesma forma que, durante os anos 90, Eggman era o vilão principal da maioria dos derivados da saga, a tendência de enfrentar criaturas com poder inimaginável também foi adotado pelos games que não são da linha principal. Em Sonic and the Secret Rings de 2007, o herói é transportado para o mundo de Mil e uma Noites, uma dimensão existente dentro do livro da história. No enredo, ele precisa enfrentar Erazor Djinn, um gênio da lâmpada maligno que deseja absorver o poder dos Sete Anéis Mundiais, que são equivalentes às esmeraldas, mas cada um deles representa um sentimento necessário para a criação de uma história.


Ao absorver o poder de quatro dos anéis, o gênio se torna Alf Layla wa-Layla, uma versão maior de si mesmo com seis braços e apenas um olho. O monstro tem a capacidade de manipular toda a realidade onde se passa o game. Além disso, também é presumido que ele consiga fazer viagens interdimensionais, uma vez que ele afirma que vai até o mundo de Sonic após matar o ouriço. Por fim, como padrão desse tipo de criatura, ele também é imortal. Para derrotá-lo, foi preciso que o herói selasse a criatura dentro da própria lâmpada mágica. Além disso, Erazor não conseguiu absorver o poder dos três últimos anéis, que foram utilizados por Sonic. Dessa forma, podemos afirmar que não foi demonstrado toda a extensão do poder do boss.


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Foto: Reprodução/ Sonic and the Black Knight

Sendo a sequência de Secret Rings e lançado em 2009, Sonic and the Black Knight segue os mesmos padrões do game anterior. Em vez de ir para o mundo de Mil e uma Noites, o ouriço é teleportado para Camelot, capital onde se passam as histórias do Rei Arthur. No fim da trama, ele precisa enfrentar Merlina, neta do mago Merlin e a responsável por invocar o herói até lá. A maga tinha se transformado na Dark Queen após obter o poder da bainha da Excalibur. A bainha da espada lendária concedia imortalidade e imenso poder para quem a possuísse. Dessa forma, mais uma vez enfrentamos um inimigo que não pode ser morto, algo que naquele momento já havia se tornado “normal” dentro da série.


Além de imortal, a Dark Queen tem um poder mágico absurdo. Ela conseguia controlar o mundo de Camelot por completo e pretendia tornar o reino eterno. Além disso, sua forma final é enorme e possui quatro braços, lembrando alguma criatura que saiu diretamente de algum jogo de Final Fantasy. Por fim, Merlina em sua forma base já havia demonstrado ter poder suficiente para invocar pessoas de outra dimensão, então é presumido que em seu pleno poder ela também consiga fazer esse tipo de viagem.


Como se nada tivesse acontecido


Depois de quase 10 anos derrotando deuses, entidades e seres que vão além da compreensão, em 2010, a franquia voltou a se tratar sobre um ouriço azul que vence um cientista bobo. Em Sonic Colors, assim como nas aventuras clássicas, a ameaça principal era o próprio doutor Robotnik. O vilão tinha descoberto e estava escravizando os wisps, uma raça alienígena com a capacidade de utilizar diversas habilidades diferentes. Porém, no último confronto ainda podemos perceber um resquício da influência que os anos 2000 deixaram na saga. Diferentemente de outras ocasiões, a engenhoca pilotada por Eggman dessa vez era na cor roxa, baseado na cor dos wisps que ele corrompeu, além de ter um formato que lembrava os alienígenas.


Os tempos haviam mudado. Os adolescentes edgys dos anos 2000 começaram a perceber que toda aquela cultura de adoração ao “sombrio” era vergonhoso e esse tipo de abordagem deixou de ser interessante para a Sega. O maior exemplo que podemos usar como comparação entre essa nova fase, que os fãs batizaram de Meta Era, e a Dark Era é Sonic Generations, lançado em 2011. O jogo era uma comemoração de 20 anos do mascote e, pensando nisso, a trama deveria envolver viagem no tempo para que Sonic conseguisse encontrar sua versão clássica. O vilão da vez era o Time Eater, uma criatura com a capacidade de apagar completamente o tempo e espaço, sobrando apenas um enorme e vazio espaço branco.


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Foto: Reprodução/ Sonic Generations

Durante o game, revisitamos algumas fases que marcaram a história do azulão. Dentre elas está Crisis City, estágio que se passa no futuro destruído onde Silver vive. Acontece que, no final de Sonic 2006 nós voltamos para o passado e apagamos a chama de Solaris, fazendo com que os eventos do jogo não tenham acontecido e consecutivamente o futuro de Silver nem sequer tenha existido. Dessa forma, o poder do Time Eater é tanto que ele possui a habilidade de até mesmo resgatar algo que foi apagado da existência. Mesmo assim, o vilão não é representado de forma tão séria e dramática quanto Solaris ou qualquer outro antagonista enfrentado nos anos 2000, sendo um reflexo da nova abordagem que a Sega iria usar.


Mesmo com um poder imensurável, o vilão não consegue transmitir o terror e sensação de perigo que as experiências anteriores conseguiram passar. Além disso, outro ponto a se ressaltar é a presença do doutor. No final da história é revelado que o Time Eater era uma forma primordial que foi encontrada e controlada pelo cientista. De forma prática, a criatura serviu como mais um dos robôs de Eggman, mesmo tendo capacidade para ser mais do que isso. Esse desperdício do potencial do Time Eater foi motivado pelo jogo em que ele foi lançado. Por Generations ser uma comemoração do aniversário do mascote e que juntava suas duas eras diferentes, era esperado que o vilão fosse o doutor, sendo o Time Eater apenas um artifício de roteiro para que a trama acontecesse.


Dessa forma, o bigodudo voltou a ser o desafio final enfrentado por Sonic em suas aventuras. Mesmo quando divide o antagonismo com outros personagens, como em Sonic Lost Worlds (2013) e Sonic Forces (2017), o segundo vilão não costuma ser algo grandioso como o que era feito antigamente. Todavia, o último título da franquia indica que isso pode mudar mais uma vez. Lançado no ano passado, Sonic Frontiers apresenta novamente uma entidade alienígena capaz de destruir o planeta como vilão principal. O último boss dessa vez se chama The End, nome apropriado, uma vez que ele faz com que planetas inteiros cheguem ao fim.


Foto 11 Reprodução Sonic Frontiers
Foto: Reprodução/ Sonic Frontiers

Porém, dessa vez a forma de vida não tem uma aparência bestial ou algo assim. The End aparece com o visual de um enorme planeta roxo e, embora muitos teorizem que essa não é sua real aparência, até então nunca fomos apresentados a sua possível forma verdadeira. De todo modo, esse foi o caso mais próximo que tivemos nos últimos anos de um chefe que se assemelhe com o fenômeno ocorrido no início do milênio. Além do boss, o jogo é repleto de referências a vários títulos da saga, servindo como uma bela homenagem aos 30 anos do ouriço azul. Junto com a ascensão da Meta Era, uma das principais críticas feitas foi sobre sua falta de uma boa história.


A maioria dos títulos tem um enredo ruim, principalmente se comparado aos dos anos 2000, chegando até mesmo a descaracterizar alguns personagens, como o caso do Tails. A Sega parece ter voltado a se preocupar com uma boa história em seus lançamentos. Sonic Forces, embora fracasse miseravelmente, tenta construir um enredo mais maduro, apresentando o primeiro jogo onde o Eggman realmente consegue dominar o mundo. O Frontiers, por outro lado, apresenta um bom roteiro e que realmente te faz sentir a nostalgia de estar jogando algo parecido com os games da Dark Era. Apesar disso, existem alguns retcons que podem ser considerados questionáveis, como o fato das esmeraldas do caos serem de origem alienígena e a esmeralda mestre não - Isso entra em conflito com a história do Light Gaia que, até então, tinha uma relação intrínseca com os artefatos.


Revisitando a trajetória do Sonic, vendo como ele era na década de 90, pelo que passou nos anos 2000 e no que se transformou em 2010, eu chego a conclusão de que a Dark Era foi realmente um período melhor para o ouriço. Apesar de alguns títulos serem ruins, como o caso do Sonic 2006, as produções ainda tinham alma e não eram totalmente infantis e bobas. Após 2010, os jogos passaram a seguir uma linha mais parecida com as aventuras clássicas, mas falhando completamente. Olhando para essa situação, chega a bater saudades da época em que Sonic era quase um protagonista de Shounen enfrentando divindades. Com relação aos futuros jogos da série, tudo o que nos resta agora é esperar para saber se o próximo duelo de Sonic vai ser contra seu velho arqui-inimigo ou contra algum ser celestial com poderes divinos.


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