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CRÍTICA | O Mal Que Nos Habita: uma boa ideia sozinha não sustenta um filme

Atualizado: 8 de jun. de 2024


Dentre os filmes mais esperados de terror do ano, o filme argentino O Mal Que Nos Habita, dirigido por Demían Rugna, apresenta uma premissa interessante: um apocalipse do mal na sociedade contemporânea. Tal ideia catalisadora poderia dar vida a um filme de terror extremamente grandioso, trazendo a urgência do perigo em qualquer lugar que os personagens estivessem. Porém, o longa fica apenas na possibilidade de algo bom, quando joga fora a complexidade inicialmente apresentada para dar lugar a um roteiro raso e pobre.


O filme acompanha Pedro e Jimi, dois irmãos que vivem juntos em uma pequena vila afastada da cidade, e lá descobrem a aparição de um possuído, alguém que foi incorporado por um demônio e está em um estado deplorável. É estabelecido que o mundo em que os personagens vivem é uma espécie de sociedade pós apocalíptica, em que as igrejas deixaram de existir e o mal está descontrolado. Além disso, se o mal não for eliminado da forma certa, pode dar vazão à contaminação dele para o mundo todo, bem estilo apocalipse zumbi, mas com demônios.


Nesse ponto, é possível ver a parte que o filme brilha de verdade: a maquiagem. O filme consegue retratar o possuído de uma forma extremamente nojenta, porém estranhamente verossímil. Mesmo sendo exagerado, dá pra acreditar que um ser humano conseguiria chegar naquele ponto, se exposto a algo tão bizarro como um demônio, e o filme tem noção disso.


Os efeitos práticos dele no lugar de CGI me lembrou muito o uso em O Exorcista, de 1973, em que grande parte do choque estava justamente no fato de apelar para algo mais realista ao invés de criar monstros além da compreensão. Talvez o espectador tenha mais medo ao reconhecer aquele estado ainda como ser humano e não apenas como algo a mais.


Foto: Reprodução/ Warner Bros. Pictures

A trilha sonora também contribui para criar uma tensão nos momentos iniciais, que se estende muito bem no primeiro ato do filme. A obra se apresenta como imprevisível, e parece que teremos uma jornada incrível pela frente


Não temos uma jornada incrível pela frente


Depois de passar o início todo parecendo que estava preparando algo para os espectadores, a obra decepciona no resto da rodagem. O diretor, que antes se propôs a apresentar algo grande, agora fez eu me sentir como se estivesse vendo outro filme. Todas as coisas que no começo pareciam ser interessantes foram desenvolvidas de uma maneira extremamente preguiçosa.


O longa no início começa a se expandir e contextualizar tudo o que está acontecendo de forma bem orgânica, com o espectador imerso na situação toda. Porém, depois do primeiro ato, o filme continua expandindo mas para de contextualizar, deixando quem está assistindo completamente perdido sobre a situação do mundo em que os personagens estão inseridos. Porém, o roteiro contorna isso colocando falas extremamente expositivas em personagens aleatórios para explicar a situação em que todos estão inseridos, em que o filme abandona completamente a abordagem orgânica de antes.


Além disso, mesmo com a contextualização expositiva, muitas coisas ainda ficam extremamente confusas, parecendo que nem o roteirista sabia muito bem o que estava escrevendo.


Os personagens enquanto estavam na vila pareciam ser inteligentes e cautelosos. Porém, porque o roteiro precisa, eles viram idiotas até nas situações mais básicas. A falta de contexto sobre o que está acontecendo deixa tudo bem armengado, em que várias situações “porque sim” são feitas, quebrando a suspensão de descrença do espectador. Em uma das cenas que era pra ser aterrorizante, eu estava gargalhando por não acreditar no que o roteiro estava tentando me fazer acreditar pra trama continuar de tão barato que era.


A direção também piora muito, deixando um ar de amadorismo nas cenas que outrora pareciam extremamente bem trabalhadas, além de esquecer frequentemente de personagens e depois trazê-los de volta como se nada tivesse acontecido.


Uma coisa que se manteve boa do início ao fim foram as atuações. Realmente, aqui os atores principais se esforçam muito para passar uma atuação convincente, mas fica difícil de engolir com atuações secundárias não tão inspiradas e um texto bem fraco que o roteiro dá para os atores trabalharem, deixando sem tanta substância as performances deles.


Conclusão


O filme apresenta uma introdução sólida e orgânica, com boas ideias e um mundo que parece ser extremamente interessante. Porém, essas boas ideias não se sustentam conforme o filme avança, e as expectativas criadas pela introdução passam bem longe de serem atingidas. Um grande desperdício de potencial.


Nota: 1,5/5



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