CRÍTICA | Mickey 17 e o sci fi do “On-ho”
- Victor Lee
- 6 de mar.
- 5 min de leitura

O que é a morte? Para os religiosos, enquanto para alguns a morte representa o fim da existência, para outros é apenas uma etapa. Nesse sentido, pode ser vista como uma passagem para a vida eterna, um estágio para a reencarnação ou até acontinuidade da vida por meio de uma força vital e imortal chamada ori. Para os filósofos, a morte pode ser caracterizada como o fim da condição humana e de suas funções vitais, sociais e psíquicas, sendo um elemento essencial da existência. A morte é justamente esse fim definitivo, sem recomeço.
Já na visão científica, a morte tem um mecanismo para consolidar o prestígio social atribuído a determinados agentes, que demonstraram aptidão para sobreviver sob a influência das regras, normas e padrões de conduta estabelecidos pela comunidade científica. Mas será que desafiar a morte é possível? Bom, isso eu já não sei, porém, no novo filme do diretor Bong Joon-ho isso não é um problema.
O longa Mickey 17 é uma ficção científica baseada no livro de Edward Ashton. A trama acompanha Mickey Barnes, um homem consumível enviado a uma missão suicida para colonizar o planeta gelado de Niflheim. Considerado por ele mesmo de descartável, o mesmo executa tarefas extremamente perigosas e, quando morre, suas memórias são transferidas para um novo corpo, permitindo que a missão continue sem interrupções.
Após morrer algumas vezes, Mickey começa a questionar sua existência e descobre segredos obscuros por trás de sua repetitiva jornada. Ele se vê diante de escolhas que podem abalar a ordem estabelecida e mudar o rumo da missão.
O Mundo e a Corrida Espacial
Em um mundo um tanto despótico, entre a realidade e a fantasia, podemos perceber que o planeta Terra está tomado pela corrida pelo poder, pelo petróleo e pelas grandes empresas em busca de dinheiro, além das disputas políticas e armamentistas. Esses pontos são colocados de forma subjetiva ao longo de toda a narrativa do filme, mas não deixam de ser semelhantes à nossa realidade.

Outro ponto já bem trabalhado é como esses humanos são apresentados ao longo do filme. Aqui, consigo imaginar a principal referência retirada de Akira, mostrando um mundo quebrado, onde as pessoas estão endividadas, a criminalidade cresce cada vez mais e aqueles que detêm o poder fazem o que querem.Assim, conhecemos o nosso político megalomaníaco Kenneth Marshall interpretado por Mark Ruffalo, que resolve entrar de cabeça na corrida espacial após não se consolidar na política.
O roteiro e a atuação do Mark Ruffalo gritam e satirizam de formas que chegam a ser uma vergonha alheia, mas que não tira o brilho do ator e nem do seu personagem. A todo momento, ele se reinventa, equilibrando o tom pastelão com uma representação realista de diversos políticos extremistas existentes em nossa realidade, neste caso um mix de Trump e Musk.
Diferente do Mix feito por Mark, Naomi Ackie, Steven Yeun e Toni Collette também dão uma aula de atuação, entregando uma mescla de comédia e drama bem bizarro que faz todo um diferencial para a trama. Porém, Naomi Ackie, sem dúvidas, juntamente com Robertinho, carregam muito bem o protagonismo e as narrativas da obra, assim como uma ótima química entre os dois, fortalecendo a evolução dos pensamentos para a trama dos Mickey’s e do planeta.

Toda a construção da corrida para o espaço nos direciona a temas como o fanatismo, alienação e a falta de recursos das pessoas no filme, trazendo-as até aquele ponto de se entregar e buscar o novo sem se questionar, assim começa a trajetória de Mickey como um descartável por falta de oportunidades.
O sci fi do “On-ho”
Um dos principais pontos desse filme é o que chamo de “Sci-fi do On-ho”. Espelhar uma ficção científica de um livro para as telonas, sem dúvidas, é um trabalho que pode ser muito bom ou um desastre. O filme consegue explorar todas as principais narrativas do gênero: conceitos ficcionais, os imaginativos e loucos, relacionados ao futuro, ciência e tecnologia, e seus um dos mais importantes que rodeia Mickey 17 os impactos e/ou consequências em uma determinada sociedade, ou em seus indivíduos Aqui, já percebemos como Joon-ho nos guia na construção de seu mundo.
O roteiro feito pelo diretor explora a ficção e consegue trazer questionamentos que refletem na nossa própria existência com seres humanos. Contudo, como que, mesmo com tantos recursos favoráveis e brilhantes ideias, nos afundamos na ganância e na destruição? Isso é brilhante, de como essas tecnologias trazem um impacto para a nossa sociedade e nos torna pessoas descartáveis.

Porém, nem tudo são flores. Para Mickey 17, mesmo com um ótimo roteiro, sinto que faltou explorar mais dos personagens que rodeiam o Mickey, e fazer esse paralelo da terra com o espaço com os personagens, algo que também não muda ou tira os méritos do roteiro.
As semelhanças da fotografia do planeta Niflheim com Star Wars nos trazem uma sensação nostálgica e conforto ao assistir algo já trabalhado em nosso subconsciente. Da mesma forma, os maquinários e as naves são bem elaborados, tornando os cenários compactos e envolventes para o público.
Los Mickey’s
Enquanto a corrida espacial continua o mais rápido possível em Niflheim para ser o próximo planeta habitado pelos humanos, nosso “não-rato” continua se aventurando e morrendo, morrendo e morrendo…

Um dos pontos cruciais da trama é a performance do drama e da sacada de humor que os Mickey’s tem neste caso, um show de atuação do Robert Pattinson que já se mostrou um grande ator. Mesmo sendo o protagonista, é possível ver a evolução, a construção de como o Mickey é bem trabalhado e uma das inspirações do Joon-ho trazidas do livro do Ashton Edward são suas sacadas desse humor quebrado do descartável Mickey.
A saga do protagonista passa por altos e baixos até se entender como um humano não descartável. Suas memórias, seus sentimentos, o medo de morrer e suas mortes tornam um único ser, e como esses pontos são abordados é bem interessante. Assim também é a relação dele com os seres que habitam o planeta e como isso influência toda a frota.
Veredito 29 (Referência de quantas criticas já fiz aqui no site)

Em meio a um ambiente alienígena hostil, o longa apresenta temas como sobrevivência, identidade e revolução. Com um show de atuações, destaque é claro para Robert Pattinson o filme traz uma ficção científica bem leve em comparação com outras já vistas, mas sem perder o seu foco e sua história. A satirização e os problemas tão atuais no filme nos torna mais ligados para entender e refletir sobre a Obra. Mickey 17 é sim um excelente filme, mesmo com alguns deslizes ou pela falta de coisas pouco exploradas durante as duas rápidas horas de história. Além de uma brilhante diração e cuidado que Bong teve em suas inspirações.
Nota: 4/5 👨🏻🚀🧑🏻🚀🌕
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