CRÍTICA | Karatê kid Legends é uma obra para os fãs
- Victor Lee
- há 10 horas
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Nos últimos anos, abrimos as portas para entender o que é o Multiverso no mundo geek. Grandes batalhas, encontros, cenas épicas e aquele gostinho de fanservice, de sair da sala de cinema ou de maratonar aquela série sentindo que aquilo foi feito para você. Um bom exemplo disso é a série Cobra Kai (2018-2025), que expressa toda essa comoção de entender o que o fã quer ver. Fruto disso, temos o que canonicamente é conhecido pelos fãs como “Miyagi-verso", ou seja, refere-se a todas as obras de ficção, incluindo filmes e séries, que estão situados no mesmo universo e personagens que interagem com o Sr. Miyagi, o mestre de karatê dos filmes da franquia Karate Kid. Nesse contexto, Karate Kid: Lendas, é mais uma prova desse feito chamado “Miyagi-verso", no novo longa acompanhamos Li Fong (Ben Wang), um jovem prodígio do kung fu que, após uma tragédia familiar, muda-se com a mãe de Beijing para Nova York. Ao chegar nos Estados Unidos, o jovem enfrenta dificuldades para superar o passado e se adaptar à nova cultura, enquanto tenta se encaixar na escola e entender mais sobre a correria da cidade. Apesar de não querer mais lutar a pedidos da sua própria mãe, Li acaba se envolvendo em problemas constantes, especialmente quando tenta ajudar um novo amigo e chama a atenção de um campeão local de karatê, o que o leva a entrar na competição mais prestigiada do país.Com suas habilidades insuficientes para vencer, Li conta com a ajuda de seu mestre de kung fu, Sr. Han (Jackie Chan) e com um conhecido do público Daniel LaRusso (Ralph Macchio).
A Conexão dos Métodos O primeiro ato é marcado por alguns núcleos: China vs Japão (Okinawa) e Pequim vs Nova Iorque. O longa dirigido por Jonathan Entwistle, desde os seus minutos iniciais, apresenta de forma direta e dinâmica a grande conexão dos filmes em contraponto com as artes marciais, neste caso, o kung fu e o karatê, representado a China e o Japão.

Já Pequim vs Nova Iorque nos remete, de fato, à história central do filme, onde conhecemos os personagens, os dramas de cada um e o que posso chamar de o maior prodígio cinematográfico do “Miyagi-verso" sem o Miyagi-san. Li Fong é, de fato, um grande lutador e já conhecedor do kung fu graças ao seu mestre Han e, claro, é nítido ver o quanto ele, como aluno, se dedica para sempre buscar o melhor. O roteiro deixa isso evidente ao mostrar o quanto as lutas e os ensinamentos de Han podem ajudar na disciplina do rapaz, algo que sempre vimos nos antigos filmes e na série da franquia.
Outro ponto de destaque nesse ato é a conexão de Li com Victor, um dos amigos que ele acaba fazendo nos meses em que se “estabeleceu” na cidade, nos remetendo à ideia de papéis invertidos quando vemos o protagonista ensinando as técnicas para um adulto. Desde o início, é possível notar toda a dinâmica e como a edição conseguiu trabalhar isso muito bem durante as montagens e as coreografias de luta.
O Peter Parker Chinês
Para quem acompanha a franquia, sabe muito bem como os protagonistas são sempre o oposto dos seus rivais, suas dificuldades de se inserir em determinados lugares e de não saber nada sobre as técnicas de luta. Vimos isso com Daniel, Julie Pierce, Dre e os personagens de Cobra Kai, como Miguel e Robby. Já em 2025, isso muda por completo: Xiao Li, sem dúvidas, é um ótimo lutador e, por mais que tenha mudado de país, é nítido ver o quanto ele consegue se adaptar por já ser fluente na língua.

Ainda sobre as lutas, o filme se destaca pelas coreografias, trazendo um repertório gigantesco por trás de tudo isso, suas referências aos filmes de karatê da década de 80 e, o que mais chama a atenção, os movimentos de defesa e luta dos filmes de Jackie Chan. Ver isso ser recriado por Ben Wang nos evidencia como a nostalgia é trabalhada a todo momento, nos puxando para vários detalhes do passado das obras e dos personagens.
As Filosofias de Luta

Um dos momentos mais importantes e aguardados pelo público vai ser o grande encontro das filosofias de luta entre Dan e Han. O segundo ato todo nos mostra como essa ideia surgiu e como o personagem vai precisar lidar com seus maiores pesadelos e superar tudo isso. De fato, o filme e toda a franquia trazem essa essência de superação, coragem, equilíbrio e foco em não desistir; todo esse conjunto é resumido em uma das frases mais usadas do Sr. Miyagi: "Primeiro aprende a ficar em pé, depois aprende a voar."
Já a interação dos mestres é movida pela semelhança de Han com Miyagi, devido às suas experiências e à certa idade, e por Dan, que ama passar adiante os conhecimentos que mudaram sua vida por completo. O choque do kung fu e do karatê dá início ao que podemos chamar de dois galhos fundidos.

Os diálogos, as exigências e a dinâmica dão vida para mostrar mais uma vez o quanto um jovem pode aprender a lutar em poucos dias; ou seja, Li aprende a unir diferentes estilos e filosofias de luta, embarcando em uma jornada intensa de preparação para o grande embate que vai mudar sua vida e, assim, provar a si mesmo que pode superar os desafios.
Mesmo com o roteiro amarrado e bem frenético, é claro que incluir mais ênfase nos treinos e nas dinâmicas sociais seria um desafio. Contudo, isso não minimiza a obra, que realça originalidade mesmo trabalhando em cima de um clichê.
Veredito : Os dois galhos fundidos se tornam uma ÁRVORE
O último ato é um suco de referências para os amantes da franquia e uma chama para as novas ideias daqui para frente. O filme consegue trazer uma trilha sonora muito bem elaborada, assim como uma edição bem dinâmica e interessante, diferente dos outros filmes, nos remetendo a uma gamificação da arte por ser algo voltado para as lutas.

Karate Kid: Lendas é muito mais que um legado de quarenta e um anos da franquia; é, de fato, um estilo de vida e uma linda homenagem para Pat Morita e os fãs de todas as idades. A obra abraça e faz jus ao “Miyagi-verso" com originalidade, coragem e sem medo de mostrar o passado e o futuro das obras. As lutas, a fotografia e a dinâmica dos protagonistas deixam ainda mais claro o quanto esse filme é especial para seus fãs; é nítido ver o cuidado e a simplicidade de apresentar uma história cujo final já sabemos.
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