Crítica I Garfield - Fora de Casa: O gato laranja da nova geração
- Marina Branco

- 1 de mai. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 8 de jun. de 2024

Pense em um personagem cheio de características marcantes? É o Garfield, o inesquecível gato laranja que surgiu em 1978 pelas mãos do cartunista Jim Davis, e ficou marcado nas nossas memórias pela comilança, preguiça, ironia e, mais do que tudo, lasanha!
Ao longo dos anos, ele já virou animação e chegou nas telonas duas vezes em filmes live action, que não deram muito certo nem em qualidade, nem em bilheteria. Vinte anos depois o último longa, Garfield voltou às telonas em “Garfield - Fora de Casa”, em uma roupagem diferente das anteriores e que finalmente parece ter dado certo.

Se atualizando completamente para o mundo real, a nostalgia dos quadrinhos para os adultos que assistem, se une com uma apresentação do gato para a nova geração, onde a gula e a fome de Garfield vem de aplicativos de delivery e “Gatoflix”.
Todas as cenas cotidianas que fazem com que tantos adultos (e donos de felinos) se identifiquem com o personagem continuam ali, mas de um jeito moderno e que se conecta com a época atual.
Uma das maiores representações dessa conexão é a quebra da quarta parede: o filme já começa com Garfield conversando com o público, apresentando a si mesmo, seu dono Jon, e seu melhor amigo Oddie, que também teve sua relação com o protagonista reformulada. Além disso, é desde a primeira cena que percebemos a personalidade marcante do gato, que já se entrega de cara como um amante da comida e hater de segundas-feiras.
Garfield com um novo sabor
O estereótipo de adulto rabugento que Garfield trazia começa a ser deixado um pouco de lado, trazendo um personagem muito mais engraçado e simpático do que ranzinza. A preguiça de Garfield dá lugar a uma personalidade de personagem quem faz de tudo pelos que ama, e o egoísmo que ele tinha começa a se transformar em um carinho enorme pelos outros - até mesmo por Oddie, que nos quadrinhos ele costumava menosprezar, e no filme trata como um irmão.
O longa passa pela história de como Garfield “adotou seu humano”, Jon, e mostra ao público o protagonista em sua forma bebê, gulosa e fofíssima. Enquanto cresce, podemos ver a rotina que ele leva com sua família, que tem um pouco de tudo aquilo que os adultos de hoje sentem culpa em fazer - descanso, trash food e eletrônicos, mas sob um olhar divertido.

A linha principal do filme é apresentada, quando conhecemos Vic, o pai biológico de Garfield, que deixou no filho um trauma de abandono imenso quando pequeno. O longa acompanha o reencontro dos dois, a conciliação de personalidades tão diferentes, e a construção de uma nova história, que abre espaço para fofura, amor e perdão entre muitas risadas no filme.
VE aqui, vale trazer uma curiosidade interessantíssima da versão dublada:. No filme original, a voz do protagonista é a de Chris Pratt, o famoso Senhor das Estrelas de Guardiões da Galáxia, e o pai fica por conta de Samuel L. Jackson, o Nick Fury de Vingadores. Mas, no Brasil, a dublagem da dupla é feita por Ricardo e Raphael Rossatto: pai e filho, assim como Vic e Garfield!
O cardápio de personagens
Na aventura que, se encaminha para a reunião entre Garfield e seu pai, a premissa é bem comum e previsível. Em quase uma repetição da ideia principal de outras animações parecidas, como “Pets”, Garfield sai do mundo de bichinho doméstico e ganha as ruas ao conhecer personagens que vivem a vida sem luxo, e planeja um assalto a uma fazenda de leite famosíssima. Apesar da previsibilidade, o enredo consegue prender a atenção, apresentando muitos personagens, mas escolhendo poucos (e bons) para se aprofundar, garantindo a fluidez da história.

Um deles é o Oddie, que mesmo sendo o único animal que não fala no filme, consegue passar muito de sua personalidade para a tela e cativar bem o público. Inteligente, ele parece ter a maturidade que Garfield vai conquistando ao longo da história, sendo um “estagiário fiel” do principal.
Além de Oddie, vemos também a grande vilã, Jinx, uma gata dublada originalmente por Hannah Waddingham. Flutuando entre uma personagem divertida e maldosa, a rival do gato laranja é bem construída, e rende boas risadas junto aos seus dois capangas em cenas que continuamente quebram expectativas.
Outro personagem que se constrói ao longo da trama e passa impressões diferentes a cada momento é o Otto, “garoto propaganda” da fazenda Lactase. Começando como um boi distante e ranzinza, ele se apresenta ao longo do filme como um coração mole que ensina muito a Garfield, sendo um adicional emotivo excelente ao filme junto com a vaquinha que namora.
Garfield tamanho família
“Garfield - Fora de Casa” é, acima de tudo, um filme para rir. Com vários momentos divertidos e piadas que acessam todas as idades, o filme mistura enredos adultos com um visual infantil, e consegue fazer essa mistura muito bem. Em animações fofíssimas, muito redondas e coloridas, o filme puxa a história do abandono parental, mas sem pesar no sentimento. Garfield apresenta um jeito bem resolvido de lidar com o sofrimento emocional, deixando até as partes mais intensas, leves.
Essa união entre o que funciona para crianças e adultos perpassa todo o filme, que até em sua trilha sonora referencia elementos que não excluem os pequenos do entendimento, mas deixam entrelinhas interessantes para os crescidos. Em piadinhas muito alinhadas com a internet atual, onde os personagens usam expressões como “puro suquinho do entretenimento”, os adultos se veem representados na tela para além do jeito adulto de Garfield. Tocando Missão Impossível e Top Gun nas cenas de ação, e usando músicas e efeitos clássicos dos anos 2000 nas cenas de amor, o filme diverte e atende à nostalgia que promete.
Avaliação do prato
Garfield - Fora de Casa é sem dúvidas a melhor adaptação do personagem às telonas. Misturando uma história fofa, cheia de amor e família, com o humor que norteia o filme, o gato laranja chega com uma personalidade adaptada. Mais moderno, menos ranzinza e tão guloso quanto sempre foi, ele une a nostalgia para os adultos que liam seus quadrinhos com uma apresentação para as crianças que o conhecem agora, e cria um Garfield que vale a pena conhecer.
Nota: 3,5/5








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