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CRÍTICA | Aquaman 2 - O Reino Perdido: O adeus do universo DC

Atualizado: 8 de jun. de 2024


Aquaman 2

Ao completar 10 anos, o Universo expandido da DC se encerra nos cinemas. Um adeus deveras melancólico, visto as contínuas decepções ao longo desse tempo e do já programado reboot liderado por James Gunn, que terá início em 2025 com “Superman Legacy”. Aquaman 2 tenta reconquistar o gosto e coração do grande público com sua irreverência e grande escala de ação.


Após impedir Arraia Negra (Yahya Abdul-Mateen II) e o Mestre dos Oceanos, Orm (Patrick Wilson), de destruírem a superfície, Arthur Curry (Jason Momoa) se torna não apenas o Aquaman, mas também o Rei de Atlantes. Contudo, a vida diplomática ao liderar um reino não poderia ser pior, a única coisa que lhe mantém empolgado é sua recente paternidade. Ao mesmo tempo, Arraia está determinado a se vingar de Aquaman pela morte de seu pai, buscando destruir tudo que seu rival mais preza.


O filme não continua exatamente de onde seu antecessor parou, mas sim com um salto temporal suficiente para que Arthur e Mera já tenham um bebê. Durante o primeiro ato, a relação de paternidade é posta em foco, seja de Arthur com seu filho, seja Arthur com seu pai, ela se perdendo posteriormente, entoando para o lado da fraternidade, dele agora com Orm. Entretanto, a mensagem principal do longa é novamente a crise climática global, o assunto volta a ser tratado na franquia, mas dessa vez com consequências já em andamento, infelizmente em um nível superficial, ficando em segundo plano para a aventura da vez.


Aquaman 2
Foto: Reprodução/ Warner Bros. Pictures

Para quem gostou do estilo do seu antecessor em 2018, dificilmente sairá desapontado da sequência. Os elementos chaves continuam, uma aventura bem humorada com visuais excelentes e boas cenas de ação. Os efeitos aqui são muito bem trabalhados em grande escala, as grandiosas cenas de batalha embaixo d'água são de tirar o fôlego, enquanto as que requerem mais tempo fixadas em um ponto único sofrem um pouco mais, gerando um certo desconforto. A estrutura do filme é básica, recapitulação do primeiro filme, reapresentação dos personagens e já em seguida os plots fundamentais são apresentados.


Um dos pontos mais comentados sobre “Aquaman” (2018) foi a coragem de seus realizadores em não terem medo de abordar o lado mais brega envolvendo super-heróis. Quem acompanha os quadrinhos sabe que boa parte de suas histórias são extremamente vibrantes e fantasiosas, esse lado é muito bem representado no aspecto visual proposto por James Wan e sua equipe. Todavia, os diálogos sofrem por esse mesmo motivo, possuindo falas completamente jogadas, piadas deslocadas e passagens que beiram o tosco. O roteiro em geral é bem básico, explorando seus dois núcleos principais. De um lado desenvolvendo a relação de Arthur com Orm, do outro os receios de Dr. Shin (Randall Park) com a contaminação maléfica do Arraia Negra.


Uma coisa perceptível até para quem não é cinéfilo, são as inspirações que esse filme tem em outras obras da cultura pop. Seja uma cena completamente ao estilo “O Enigma do Outro Mundo”, construções aquáticas ao melhor estilo do espaço em “Guardiões da Galáxia”, um cenário final vindo diretamente da Mordor de “O Senhor dos Anéis”, a floresta fantasiosa de “A Viagem 2” e uma trama que chega a lembrar “Thor: O Mundo Sombrio”. Todos esses elementos juntos podem parecer uma grandíssima farofa, e de fato é, mas incrivelmente é uma combinação que conquista, uma aventura com coisas que deram certo separadamente por muitos anos. Apesar disso, talvez tenha chegado tarde demais.


Um filme aos moldes de “Aquaman 2: O Reino Perdido” provavelmente teria dado muito certo ao longo da década passada, mas o mundo pós-pandemia parece não se animar mais com obras assim. Hoje, é necessário um diferencial claro para se destacar, não é qualquer filme de super-herói que vai fazer oceanos de dólares, como visto em filmes como “Shazam! Fúria dos Deuses” e “As Marvels”. Por mais que esse longa possua coração e identidade, tem uma abordagem batida que boa parte do público não se interessa mais. Há anos atrás, teria sido um baita sucesso.


Aquaman - Foto 2
Foto: Reprodução/ Warner Bros. Pictures

Jason Momoa continua como o personagem título e não há muito mais a acrescentar sobre, não é um personagem realmente profundo, é bem direto e manual, quase como se o Momoa estivesse sendo ele. No filme anterior, ele já não mostrava muito além dessa persona de um “brucutu” divertido que construiu, dessa vez existe até uma tentativa de buscar uma aproximação emotiva principalmente pelo seu vínculo paternal, que não vai muito além, seja pelo roteiro, seja por sua atuação.


Patrick Wilson retorna como o rei destronado, Orm (Mestre dos Oceanos), só que dessa vez com um propósito diferente, ao invés de ser o antagonista, ele preenche o espaço de ser o parceiro do Aquaman, ao melhor estilo “buddy cop movie”. Willem Dafoe não voltou a interpretar Vulko e o personagem foi dado como falecido no período entre filmes, assim quem teve maior espaço foi Nereus, o pai de Mera, que é interpretado por Dolph Lundgren.


Na cena pós-créditos do primeiro longa, fomos apresentados ao cientista Dr. Shin, um recorrente personagem dos quadrinhos que ganha bastante destaque nessa continuação, servindo como o personagem volúvel da história. Por mais que polêmicas envolvendo Amber Heard tenham gerado dúvidas perante o tamanho de sua participação, a sua Mera continua presente por todo o filme, tendo novamente mais destaque nos momentos de ação.


Aquaman 2
Foto: Reprodução/ Warner Bros. Pictures

Durante a rodagem, temos um claro destaque para a dupla Arthur e Orm, algo que já havia sido mostrado nos trailers em materiais promocionais. Existe um esforço para gerar uma validação da relação entre os irmãos, ainda mais se utilizando do amor de Atlanna (Nicole Kidman) a seus dois filhos. O laço entre eles é um ponto importante e ganha destaque, mas ao longo dos 124 min é complicado dizer que realmente foi forjada uma irmandade após os acontecimentos do filme anterior.


Assim, ocorre uma clara implicação durante a resolução, visto que ela é ligada diretamente aos irmãos. Há quem esteja convencido, mas faltou coragem aos roteiristas, havia necessidade de visão mais clara de resolução, algo menos sentimental e mais carnal. Quem conhece um pouco sobre o Aquaman sabe que existiam algumas possibilidades ao encerramento, uma que seria desastrosa, uma pouco empolgante e uma ótima, ficamos com a do meio.


A direção de James Wan é consciente, seu trabalho novamente junto ao diretor de fotografia Don Burgess é muito bom e deslumbrante, mostrando que a dupla trabalha muito bem com seu universo de efeitos visuais. As coreografias no geral são boas, passam a empolgação e se apresentam muito bem dentro do ambiente marinho. Rupert Gregson-Williams volta ao comando da trilha sonora, que não se destaca muito em meio aos outros êxitos técnicos, mas apresenta algo competente.


James Gunn
Foto: Reprodução/ Internet

Por fim, o que será do universo DC daqui para frente? Neste tópico abordarei coisas já confirmadas, especulações e projeções próprias. Ao final de “Aquaman 2: O Reino Perdido” temos a finalização do DCEU (DC Expanded Universe), o Universo DC fundado por Zack Snyder em 2013 com “Homem de Aço”. Houve muita polêmica nesses 10 anos, com filmes divisivos como “Batman Vs. Superman: A Origem da Justiça” (2016), fracassos de crítica e sucesso com público em “Esquadrão Suicida” (2016), e sucesso em ambos no “Mulher-Maravilha” (2017). Mas a impressão geral e final, é de uma grande bagunça e falta de planejamento.


Contudo, ainda há esperança para aqueles que cresceram e amam os personagens da DC. James Gunn, que se tornou um dos maiores casos de sucesso na indústria dos filmes de super-herói dirigindo a trilogia “Guardiões da Galáxia” para a Marvel, iniciou seu caminho na DC ao fazer “O Esquadrão Suicida” (2021) um soft-reboot do filme anterior, que acabou sendo abraçado não só pelos fãs, mas pela crítica. Assim, Gunn recebeu as chaves desse universo, se tornou o chefão dos filmes, a nova mente por trás de tudo, e decidiu reiniciar e começar praticamente do zero.


Os acontecimentos até aqui dos filmes da DC não valem mais, e por enquanto os únicos que saem para a nova continuidade são o Besouro Azul (Xolo Maridueña), Amanda Waller (Viola Davis) e o Pacificador (John Cena). No planejamento de Gunn, as coisas vão se iniciar de fato com o filme “Superman Legacy” em 2025, contando com um elenco inteiramente novo e uma visão contrária ao apresentado por Zack Snyder, algo mais próximo dos quadrinhos, mostrando o quão incrível, esperançoso e bondoso pode ser o Superman.


O Aquaman deve ganhar um tempo no esquecimento, por enquanto já existem projetos em desenvolvimento de outros personagens da DC, como, Batman, Mulher-Maravilha, Supergirl e Lanterna. Verde, mas para o rei de Atlantes, deve demorar um pouco mais. Enquanto isso, Jason Momoa não parece que vai ficar fora dos filmes super-heróis por muito tempo, visto que ele possui uma grande vontade de interpretar o anti-herói Lobo, tendo grande apoio do público e possivelmente até do próprio Gunn.


James Gunn vem para buscar não só dar mais ordem e coesão ao universo da DC, mas talvez para tentar salvar o gênero de super-heróis. O ano também não foi bom para a Marvel, tendo o filme do próprio Gunn (Guardiões da Galáxia 3) como o único sucesso do estúdio. Existe no ar uma insatisfação geral sobre o estado desses filmes, obras sem vida, genéricas, industrializadas. O novo chefe da DC já declarou que busca trazer outro sentimento, o da liberdade criativa, das invenções, das histórias únicas e com muito coração, ao invés de ser só mais um produto qualquer que os produtores ficam pondo suas mãos.


Nota 3,5/5 🧜‍♂️



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