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CRÍTICA | Vidas passadas é desconfortavelmente real

Atualizado: 8 de jun. de 2024


Past Lives (Vidas Passadas)

Alguns amantes do cinema consideram que para um filme de romance — ou uma relação amorosa — ser uma história de amor, precisa necessariamente de um final feliz. Quando “500 dias com ela” (2009) fez questão de verbalizar logo em seu começo que aquela NÃO era uma história de amor, aposto que ainda houve quem se surpreendesse com o término do casal no terceiro ato do longa. Não por falta de aviso.


Em “Vidas Passadas”, a estreante diretora Celine Song poderia ter seguido o caminho fácil: contar um grande conto de fadas onde o amor é força tão acachapante que consegue transcender qualquer barreira de tempo ou espaço. Mas preferiu ir por outro caminho: o do extremo realismo. Trajeto que, ao mesmo tempo que é bruto, curiosamente não deixa de ser acolhedor. “Vidas passadas” é uma história de amor tão real que nem precisa de final feliz.


Nora (Greta Lee) era ainda criança quando teve que se separar do seu melhor amigo e primeiro amor Hae Sung (Teo Yoo) ao trocar a Coréia do Sul pelo Canadá. Com a popularização das redes sociais, ambos se reconectam (em todos os sentidos possíveis) depois de pouco mais de uma década. Por conta de circunstâncias, não se ree ncontram e só voltam a se ver fisicamente em Nova York, depois de mais alguns anos.


Desta feita, ela casada com um americano e ele vindo de um término recente.


Past Lives (Vidas Passadas)
Foto: Reprodução/ Past Lives

A química do (quase) casal salta aos olhos. Passeando juntos pela paisagem da cidade, onde a diretora usa e abusa de planos abertos para mostrar que, mesmo naquela imensidão, estão próximos, é impossível não, junto a eles, imaginar o grande potencial que há ali. Que sempre houve. “Vidas passadas” é o filme do “o que poderia ter sido”, por isso tem a capacidade de despertar tanto a imaginação do espectador — que a depender do que esteja vivendo, vai entrar a fundo em cenários paralelos da sua própria vida.


Muito cotado para a temporada de premiações (e filme favorito de 2023 desse que vos escreve), não há aqui aquela famigerada cena onde o ator ou atriz tem o grande monólogo que serve mais do que tudo para ser usado como “cena que garantiu a indicação ao Oscar”. Mesmo assim, Greta Lee toma para si esse direito. Numa atuação sem grande verborragia, singela, passa com maestria a vivacidade e inocência do amor jovem; a decepção pelo desgosto de conhecer a “pessoa certa no momento errado”; e a força de encarar (e fazer as pazes) com seu próprio destino.


O filme da direção magistral Celine Song, onde sua câmera está sempre apontada para onde deve estar, te faz refletir sobre o próprio passado, apreciá-lo, e encarar o fato que escolher é perder sempre. A arte de Song serviu para fazer a bigorna da realidade cair sob a cabeça de quem a assiste. Extremamente palpável, é uma história de amor real. Desconfortavelmente real. Como deve ser.


Nota: 5/5



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