CRÍTICA | O poder não deixa vácuo em 'Planeta dos Macacos: O reinado'
- Patrick Levi
- 9 de mai. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 8 de jun. de 2024

Peço permissão a Proximus César, vilão de “Planeta dos Macacos: o Reinado”, para utilizar sua frase favorita: “Que dia maravilhoso!”. É maravilhoso, como amante de cinema, viver em um mundo onde uma franquia tão importante como essa foi revitalizada, já chegou ao seu quarto filme e ainda tem o que contar — mesmo tendo perdido o seu cativante protagonista, César, vivido brilhantemente pelo injustiçado Andy Serkis. O motivo se mostrou claro: o planeta é maior do que o macaco, até do que um que se tornou uma ideia.
E o filme de Wes Ball é inteligente em trabalhar os símbolos do heroi, do mito, que foi César, mas infelizmente, nesse sentido, para na página dois. A releitura dos seus valores por outros macacos, que de nada o conheciam suas ideias, é uma temática viva no longa, porém pouco explorada. Como o poder não deixa vácuo, logo há alguém que, para o bem ou para o mal, soube se apropriar do vazio deixado por César. O gosto de “quero mais disso” fica na boca, mas não chega a ser uma grande problema no longa, já que outros aspectos são tão bem realizados, como as cenas de batalha e o desenvolvimento do novo protagonista, Noa (Owen Teague) — ou Noé?

O que faz “O reinado” dar certo é repetir o que de bom tinha na excelente trilogia do Matt Reeves: a reorganização da sociedade e a eterna luta por poder de grupos em desenvolvimento, a responsabilidade caindo no colo de quem recebe o chamado, etc. Mas Wes Ball vai além e segue uma direção nova também, com camadas adicionais inesperadas de um novo líder que não faz ideia do que está fazendo em muitas ocasiões, mas que tem a coragem para fazê-las. É o que nos aproxima dele.
A relação entre macacos e humanos aqui é completamente nova dentro da franquia, pois anda em círculos. Não se trata de preto no branco, mas de várias camadas de cinza e, consequentemente, de desconfiança. Onde não há desconfiança de fato é entre a nossa relação de público com o filme: pode vir mais uma nova trilogia, aposto todas as minhas fichas que, no mínimo, a experiência será interessante. “Planeta dos macacos” é a franquia mais estável da atualidade. E fato é que, mesmo sem o carisma de César, Noa tem um potencial tão grande quanto.
“Planeta dos Macacos: o reinado” tem premissa simples e poderia cair na sombra do que foi a história de César e as nuances da sua jornada. Mas o futuro sempre vem, e veio também aqui — mesmo que muitos dos macacos e humanos desse universo ainda vivam como os seus pais. Tive pé atrás com Wes Ball quando o diretor foi anunciado, já que o seu único trabalho relevante até então havia sido a esquecível trilogia “Maze Runner”. Mas fui positivamente surpreendido com as decisões criativas de roteiro e sobretudo com os belos enquadramentos feitos pelo realizador. Para além de um filme empolgante, temos aqui cenas de contemplação dignas de aplausos no cinema. Quadros que poderiam estar em uma exposição.
Nota: 3,5/5 🐒
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