CRÍTICA | “O Exorcista — O devoto”: se não há nada a acrescentar, nada faça
- Patrick Levi
- 12 de out. de 2023
- 3 min de leitura
Atualizado: 8 de jun. de 2024

A Blumhouse Productions foi o estúdio responsável por tentar revitalizar a franquia “O Exorcista” com uma nova trilogia. Ignorando os eventos dos dois filmes que deram continuação ao clássico de 1973, “O Exorcista II — O Herege” (1977) e “O Exorcista 3” (1990), a produtora lança nesta quinta-feira (12) “O Exorcista — O Devoto”, exatos 50 anos após o primeiro filme.
“O Exorcista” (William Friedkin, 1973) se tornou referência máxima do cinema de terror; já o soft reboot (uma refilmagem que não ignora completamente o cânone) da Blumhouse tem tudo para conseguir impacto equiparável, mas com o sinal invertido em termos de qualidade. O longa se prende ao formulaico, apela à nostalgia barata ao contar com o retorno de uma personagem do primeiro filme, mas sem dar à ela importância devida na narrativa e, acima de qualquer coisa, não consegue ao longo da sua duração (1h51m) convencer o público que a sua existência faz sentido. Ora, se a intenção é repetir maleporcamente o que há na obra original, é perspicaz entender que ela basta por si só.
O responsável
David Gordon Green foi o nome escolhido para essa fatídica missão. Impossível não imaginar que o motivo foi o fato do diretor também ter ficado à frente do revival da franquia “Halloween” recentemente. Com os filmes da nova trilogia do assassino Michael Myers, Green acertou no primeiro, tropeçou no segundo e deu de cara com a parede no terceiro. Em “O Exorcista — O Devoto”, já no primeiro passo dado o diretor torceu o pé e ficou estatelado no chão. A ideia foi repetir a fórmula não só de “O Exorcista” de 73, mas de todos os outros filmes que se inspiraram nele somados — apelando para o aumento da dimensão. Não funcionou.

Esse é um problema muito comum em continuações de filmes consagrados. Não há nada inovador para ser contado, mas teimam em achar que uma nova história precisa acontecer. Diante disso decidem abordar uma “nova história velha”, mas elevada ao quadrado. Se em “Star Wars: a nova esperança” (1977) a Estrela da Morte era do tamanho de uma lua, em “Star Wars: o despertar da Força” (2015) a nova arma de destruição em massa era literalmente um planeta. Mesmo com o aumento do desafio, o roteiro é rigorosamente semelhante.
Aqui em “O Exorcista”, o demônio não mais se contenta em possuir apenas uma garotinha, mas a sua amiga também (uau!). Não só uma família está em desespero para salvar a vida de uma criança, agora são duas. Não só o catolicismo está envolvido, religiões de matrizes africanas estão juntas nessa para enfrentar o desafio. A diferença de impacto é tão significativa assim? Quando uma obra tenta abordar muitas linhas narrativas, acaba que não se aprofunda em nenhuma, não dá peso a nenhuma.
Genérico ao extremo
Por mais que Gordon Green use e abuse dos clichês desse sub-gênero do terror (filmes de possessão), surpreendentemente ele não consegue fazer o espectador associar sua obra à marca “O Exorcista”. Caso não estivesse escrito no título, esse poderia ser qualquer outro filme de terror do cansativo “Invocação-do-mal-verso”. A lição que fica é que não adianta trazer para o título do seu filme uma franquia de renome e personagens marcantes, isso não garante automática base de sustentação para a obra. É preciso ter um bom roteiro a ser desenvolvido, se não, é apenas forma de querer (e na maioria das vezes, conseguir) lucro fácil em cima de fãs assíduos.
Exemplo disso é o retorno “qualquer coisa” da Chris MacNeil (Ellen Burstyn), mãe da garotinha possuída do 1° filme. A suposta “participação especial” foi tão escanteada que parece que a atriz decidiu participar só aos 45’ do 2° tempo e precisou ser incluída depois no filme, em regravações. Se é tão descartável assim, por que não usar uma outra personagem? A ideia não é mostrar respeito ao material original?

Uma coisa é certa: ao menos mais dois filmes estão encaminhados. Uma nova trilogia de “O Exorcista” deve acontecer nos próximos anos e nos resta torcer para que o espírito de William Friedkin, diretor do consagrado filme de 73, possua os executivos da Blumhouse e os faça mudar de ideia.
Nota: 2/5 ⸸
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