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CRÍTICA | Loucas em apuros acerta no humor, escorrega, mas se redime na mensagem

Atualizado: 8 de jun. de 2024

Em uma época escassa para os fãs de filmes de comédia como “Se beber não case” ou “Superbad”, Loucas em Apuros (Joy Ride, no original) assume a sua própria identidade e surge com uma grata surpresa ao conseguir dosar humor e enredo sem perder a mão.


Na estreia de Adele Lim como diretora, a obra conta a história de Audrey (Ashley Park), uma advogada que precisa ir à China para fechar com um cliente. Na Ásia, ela é acompanhada pelas amigas Lolo (Sherry Cola), Deadeye (Sabrina Wu) e Kat (Stephanie Hsu) em uma aventura repleta de momentos bizarros e absurdos.


Loucas em Apuros
Foto: Divulgação/ Metropolitan FilmExport

Um dos grandes desafios enfrentados pelos filmes de comédia é o cuidado no equilíbrio do humor. Muitas obras se perdem quando são abarrotadas de momentos cômicos apenas pela necessidade de entreter. É a piada unicamente pela piada. Claro, quem busca assistir apenas a cenas jocosas sendo empilhadas sem a necessidade de levar algo a algum lugar se contenta com esse tipo de filme. Mas as grandes comédias ganham seus reconhecimentos justamente porque colocam o humor servindo a um propósito, no caso, a história.


O roteiro de Loucas em Apuros não repete o erro e sabe dividir o tempo da comédia com o de desenvolvimento das protagonistas. Aliás, cada uma das quatro personagens que compõem a trama ganham seus momentos de destaque, seja no humor ou no drama. A história é modesta e não tenta ser mais do que se propõe. Inclusive, muitas vezes, toma decisões de rumos convencionais ao gênero. Isso não é, necessariamente, um problema. Só não espere a invenção da nova comédia, já que o que foi feito é um básico muito bem executado.


Apesar dos elogios, o filme perde qualidade ao entrar no drama e não sustentar a mudança em todas as personagens. Com Audrey (Ashley Park) funciona, mas o restante das protagonistas, principalmente Kat (Stephanie Hsu), não convencem ao fazer a transição entre os gêneros. Além disso, ainda que o roteiro consiga encontrar equilíbrio, ainda escorrega em piadas que não acrescentam nada aos personagens ou à trama, sendo apenas excesso.


Sherry Cola
Foto: Divulgação/ Leonine

Mulheres amarelas no poder!


Com a trama se passando na Ásia e as personagens sendo mulheres asiáticas, era esperado que assuntos como a visão do ocidente e os estereótipos impostos sobre os sobre povos amarelos iriam ser aproveitados pelo humor do filme. Desde o americano que precisa reforçar em cada fala que não é racista até a melhor piada do filme (que eu não vou revelar por motivos óbvios).


O preconceito contra a população amarela ainda é usado para subverter as expectativas de quem assiste e gerar situações de inversão. Aliás, o roteiro acerta muito no processo de preparar a piada e não entregar o esperado. Além disso, o filme também faz graça com a Coreia, aproveitando as diferenças entre os povos asiáticos e o K-Pop.


A sexualidade também é muito presente na produção, servindo como piada e, ao mesmo tempo, objeto de discussão. Esse tema tanto aproxima quanto afasta as personagens, mas não se estende a ponto de tirar o foco da mensagem principal.


(Re)conhecer a si mesmo


Cultura não necessariamente está atrelado a algum lugar. Muitas vezes é levada pelas pessoas através do mundo, carregada como uma mochila, ou através de gerações, passando de mãe para filha e assim por diante. Nascer em um local e pertencer a uma comunidade faz parte da história de cada um. Loucas em apuros mostra Audrey, uma mulher adotada por pais americanos, em um dilema sobre se conhecer e entender a qual lugar pertencer.


lOUCAS EM aPUROS
Foto: Divulgação/ Leonine

O drama vivido pela personagem de Ashley Park é vivenciado por inúmeras outras pessoas, independente de etnias. No filme, a discussão está voltada para os asiáticos. Audrey vive a cultura norte-americana e não mostra preocupação com isso, mesmo com sua amiga Lolo a incentivando para se envolver mais com os costumes chineses. Em diversos momentos, esse afastamento da protagonista é sentido por ela, gerando situações que põem em xeque a identidade da advogada.


Na América, será sempre a asiática e na Ásia é chamada de americana. Para ambos, será sempre a estrangeira, não pertencendo nem a um lado e nem ao outro, não sendo isso e nem aquilo. Então o que é? Quando se perdem os vínculos, o que sobra? A cultura dominante quer abraçar a todos, mas só superficialmente. Nunca os diferentes são permitidos de serem totalmente parte desse conjunto. Em meio a esses questionamentos, Audrey encontra a resposta dela para entender quem, de fato, ela realmente é.


E aí, é bom?


Loucas em Apuros é um filme com boas personagens, ótimas piadas e uma história modesta. Não é perfeito e também não se senta na prateleira das melhores comédias, mas nem por isso deixa de ser um bom filme. Apresenta também uma mensagem bastante identificável e permite uma reflexão sobre alguns bons assuntos. Assista, ria e se prepare para vários momentos absurdos.


Nota: ⭐⭐⭐



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