CRÍTICA I Meu Malvado Favorito 4 são mil filmes e Grus em um
- Marina Branco
- 23 de ago. de 2024
- 5 min de leitura

Histórias de filmes são como promessas. Expectativas que uma telona cria no público, e garante que, até o momento de sair da sala de cinema, tudo aquilo terá uma resolução encantadora e surpreendente. Não foi diferente em Meu Malvado Favorito 4, que chega para continuar uma saga de anos, sem falhar em se renovar a cada sequência. A nova história veio - mas, talvez, junto com pelo menos outras quatro emaranhadas.
A história de Gru (Leandro Hassum) começou com um homem solitário, mas jamais sozinho, com a companhia de milhares de minions ao seu redor. No primeiro filme, chegam Margo (Bruna Laynes), Edith (Ana Elena Bittencourt) e Agnes (Pamella Rodrigues), três meninas que o tornam pai, e amolecem seu coração. No segundo, é a vez de Lucy (Maria Clara Gueiros), que se torna sua esposa. No terceiro, de seu irmão gêmeo. E, no quarto filme da franquia Meu Malvado Favorito, chega seu mais novo filhinho - Gru júnior.
Mas não é possível dizer que o filme é especificamente sobre a chegada do neném, ou sobre o desenvolvimento da relação entre ele e o pai. É, sim, e caracteriza um super bebê que tem muito de Zezé, dos famosos Incríveis, e ao longo do filme, aprende a amar o pai que antes não compreendia. Mas também é sobre a origem de Gru, a mudança da família para um lugar novo, a ameaça de um vilão do passado, o crescimento de uma vilã em potencial, e até mesmo o quarteto fantástico.
Entre mil linhas de raciocínio e narrativas diferentes, a Illumination entrega mais um filme que reafirma o humor inesgotável dos minions, e a criatividade em manter a história de Gru viva, sem apelar para os desafios que viriam com um possível crescimento das meninas. Em uma produção divertida, cheia de referências e clichês, Meu Malvado Favorito 4 age dentro das expectativas e traz o básico, justificado pela atenção que precisa ser dividida entre todas as diversas histórias (e Grus) contadas ao mesmo tempo. Mas consegue fazer acontecer.
A família de Gru
A tradição de Meu Malvado Favorito não falhou no novo filme - a família cresceu, como sempre, e trouxe um novo integrante. O neném recém-nascido Gru Júnior chega com uma narrativa própria já de cara, ao não se dar bem com o pai que o trata com tanto carinho. Revoltado e de gênio forte, ele aparece dando a entender que a história será sobre ele, mas não é bem o que acontece.

Enquanto a expectativa da narrativa de Júnior é criada, a família inteira precisa de mudar da casa que desde o primeiro filme é cenário principal. Sob alerta da AVL, a Liga Anti-Vilões para qual Gru e Lucy trabalham, os agora seis protagonistas vão para uma cidade como anônimos, sob novas identidades e com novos desafios. Lucy, o novo emprego como cabelereira. Margo, a adaptação à nova escola. Edith e Agnes, a convivência com o duro ensino de um sensei de artes marciais.
Em paralelo a tudo isso, se solidifica a imagem de Lucy como mãe das pequenas, de maneira extremamente bem construída. A figura divertida, protetora e acolhedora da moça funciona muito bem na dinâmica do filme, construindo as melhores cenas entre as narrativas familiares e apresentando uma dublagem brasileira exemplar. Por vezes, a restringindo a isso, e esquecendo de que a personagem também é uma heroína, e sabe lutar e combater vilões tão bem quanto seu marido.

No longa, o lugar dela é perto das meninas, já que cenas da família inteira unida são raríssimas. Logo no começo da trama, Gru e seu bebê se separam delas, entrando em uma linha narrativa própria para salvar Júnior de consequências do passado do pai.
A escola de Gru
Em paralelo com o futuro que o tornou pai de família, o filme apresenta a infância de Gru de um jeito completamente diferente - pela visão da escola de vilões que o formou. Lá, conhecemos um inimigo que promete ser o grande malvado do longa desde o nome, Maxime Le Mal (Jorge Lucas). Mas não cumpre o papel tão bem assim.
Isso porque, em uma franquia que já trouxe tantos vilões icônicos como El Macho e Vector, é uma decepção imensa conhecer Maxine, que seria mais justo nomear apenas de homem-barata. Em uma construção rasa de vingança por uma humilhação infantil que nem foi bem desenvolvida, já que Gru imediatamente assume o erro, sem nenhuma construção em cima do fato, ele tem como poder se transformar em uma barata gigantesca, e comandar um exército de baratas. Exército esse que promete muito, e não faz absolutamente nada de minimamente relevante no filme.

Em termos de vilão, a figura tenta se projetar também por meio de Poppy (Lorena Queiroz), a vizinha pré-adolescente de Gru que sonha em ser malvada e descobre a identidade oculta da família. Em chantagens que funcionam até mais do que as de Le Mal, ela convence Gru a cometer um crime com ela, ensinando tudo que sabe sobre a vilania. Assim, o Gru herói da AVL passa a ser, por um momento, o Gru vilão original, em uma dualidade interessante de assistir. Mais histórias, mais versões de Gru.
Não dá para dizer que Poppy é uma vilã, até porque torcemos por ela e vemos inocência e bondade nela em muitos momentos do filme. Mas é possível enxergar como uma tentativa de ter alguma ameaça à família no longa, já que, ao ameaçar a segurança do segredo, ela parece fazer mais do que o motivo pelo qual a fuga existe.

Na realidade, a presença de Poppy no filme é uma repetição da fórmula que sempre funcionou na franquia - crianças fofas e divertidas complicando a vida de Gru. Foi assim com as meninas, e dessa vez, é assim com Poppy e Júnior, que vão à aventura com ele e dificultam e facilitam o roubo a ser feito.
Equilibrando uma construção bem feita de eventos que criam suspense em relação ao crime - que, diga-se de passagem, em nada tem a ver com quem deveria ser o vilão do filme - e a evolução mal explorada da relação entre os Grus, a linha principal do filme é interessante e diverte muito. Há, é claro, a falta das meninas, que sempre estiveram envolvidas nas tramas da saga. Apesar disso, é justa a atenção dada a Júnior, que merecia até mais tempo de tela e relevância para desenvolver a criação de amor pelo pai.
O quarteto de Gru
No meio de tudo, estão sempre eles - os Minions. Não falham, não decepcionam, não pecam. Em um apelo cinematográfico claro, mas funcional, eles têm uma linha narrativa que por si só já daria um filme inteiro, onde eles se transformam em uma cópia clara do quarteto fantástico da Marvel. Sendo o alívio cômico de sempre, e o respiro entre milhares de raciocínios simultâneos, todas as cenas de Minions satisfazem, ainda que não se conectem tanto quanto de costume com a história principal.

Outro ponto excelente do filme é a trilha sonora. Ambientando a escola de vilões nos anos 80, as músicas se conectam perfeitamente com o filme, até mesmo interagindo com os personagens, como na cena de “Everybody Wants to Rule the World”. Simplesmente impossível não dançar na cadeira e cantar junto com o próprio Gru e o suposto vilão, em uma cena que ativa um “multiverso Gru“ ao unir vários vilões de todos os filmes em um mesmo lugar, tirando sorrisos inevitáveis de quem acompanha a franquia.
O filme de Gru
Meu Malvado Favorito 4 é divertido, engraçado, interessante e envolvente, apesar de não surpreender em nada e cair no genérico. Entre Minions sempre excelentes e personagens extremamente cativantes - com exceção do péssimo vilão -, a sequência faz jus à saga que compõe, e deixa pontas abertas para ainda mais continuações. Ainda assim, peca na quantidade de histórias diferentes, que de tantas, mais parecem um desespero em fazer caber cinco filmes em um, sem conseguir finalizar à altura nenhum deles.
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