CRÍTICA | Golda - A Mulher de Uma Nação é um filme de muito mal gosto
- Roger Caroso
- 10 de mar. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 8 de jun. de 2024

Essa crítica chega em cima da hora, contando os minutos para a cerimônia da 96° entrega dos prêmios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, ou melhor, Oscar 2024. O filme da vez, Golda - A Mulher de Uma Nação, indicado na categoria de melhor maquiagem e penteados.
O longa de Guv Nattiv busca contar as ações do dia-a-dia de Golda Meir, primeira ministra de israel durante a Guerra do Yom Kippur. O conflito de Egito e Síria, com apoio de boa parte dos países do Oriente Médio contra israel durou quase 3 semanas e foi fundamental para o rumo desses territórios nas décadas que seguiram.
O conflito ocorreu em 1973 e estourou durante o dia sagrado do judaísmo (Yom Kippur) e no mês sagrado do islamismo (Ramadã). Além de ser uma representação do conflito histórico entre os ideias dos países árabes e de israel, também marca como parte Guerra Fria, onde a União Soviética e Estados Unidos apoiavam esses lados, respectivamente.

Golda Meir é parte fundamental desse momento, como a líder política de israel, ela estava diretamente relacionada com o conflito, mas seu estilo de liderança com mão de ferro que impactava e afetava diretamente no poderio militar do país. Ela é uma figura histórica completamente controversa, que gera amor e ódio nas mais diferentes esferas políticas e o filme se esquiva de tratar essa personagem com a dubiedade que ela representa.
O filme se chama Golda, o que normalmente indicaria sobre uma cinebiografia. Contudo, nesse caso, o recorte escolhido é a Guerra do Yom Kippur, que possui contornos muito maiores que a personagem, indicando que veríamos o foco nas suas ações e impactos do conflito. Mas o que existe é um enclausuramento no ciclo social dela, com uma busca de uma simpatia por pena da líder israelense, que passa por problemas de saúde.
Nesse longa, você pouco aprende sobre quem realmente foi Golda Meir e que tipo de influências ela teve como uma líder política. Tampouco sobre a Guerra do Yom Kippur, que é o pano de fundo da história, mas é tão mal desenvolvido que seu contexto é puramente jogado, o durante é apressado e o pós completamente banal. Já sobre as questões de saúde da personagem, são mais desenvolvidas que o resto, aprendemos que ela era uma fumante descabida que tinha pouco apreço por cuidados médicos, tentando mostrá-la como uma figura resiliente e empática.

Visto que pelo lado narrativo e histórico o filme é uma falha monumental, ao menos na valência em que está indicada no Oscar é bem competente. A maquiagem de destaque é na transformação de Helen Mirren em Golda Meir. Seu nariz, bochechas, pescoço e até mesmo pés sofreram mudanças radicais, conseguindo esconder completamente a atriz em meio às próteses.
O resto do elenco passa por maquiagens menos perceptíveis, mas ainda com uma grande tentativa de molda-los com base nas figuras históricas que representam. Leve destaque ao Henry Kissinger, interpretado por Liev Schreiber que recebe um trato capilar que nos traz a maior parte da semelhança com o antigo secretário de estado americano.

Para o público mais ligado em acontecimentos históricos e líderes controversos, esse filme não desce nenhum pouco. Por mais que exista a tentativa da caracterização física, não existe uma reprodução e construção minimamente acurada ao se falar de personalidades. Isso sem levar em consideração os diálogos pedantes e sem vergonha que são apresentados, cenas dignas de vergonha alheia inacreditavelmente melodramáticas.
Já na visão de um público geral, que não teve contato direto com o caso e com seus personagens, também não vai ser interessante. A falta de contexto mínimo para quem não conhece a história influencia diretamente na experiência, visto que vai gerar sérias confusões sobre o conflito e as partes envolvidas. Além de ter algumas cenas completamente jogadas no meio da trama para conquistar o espectador sensível.
Golda - A Mulher de Uma Nação é uma obra que só não é pior do que a figura que representa, visto que essa foi uma grandíssima déspota. Enquanto esse é apenas um filme de muito mal gosto que busca empatizar com uma figura nada empática.
Nota: 1/5
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