CRÍTICA | Missão: Impossível - O Acerto Final é o encerramento que todos esperam
- Rafael Cerqueira (Convidado)
- 22 de mai.
- 6 min de leitura

Missão: Impossível – O Acerto Final marca o fim de uma das franquias de ação mais icônicas do cinema. Ao longo de quase três décadas, Ethan Hunt e sua equipe desafiaram as leis da física, enfrentaram inimigos implacáveis e encantaram gerações com missões cada vez mais impossíveis. Agora, o agente vivido por Tom Cruise se despede das telonas em grande estilo, com uma última operação que promete fechar a saga com a mesma ousadia que a consagrou.
A construção narrativa do filme te permite viajar na trajetória de Ethan Hunt na busca por derrotar o mal ALERTA DE SPOILER (o que inclui Gabriel, a Entidade, o legado de Jim Phelps, o fundo do mar e a química absurda que Tom Cruise tem com qualquer mulher que contracena). Ela também te faz questionar frequentemente as decisões tomadas pelo diretor Christopher McQuarrie durante sua tentativa intensa — e entediante — de evocar a nostalgia por parte dos fãs da série.
Não se engane pela agressividade das palavras que aqui estão escritas, pois o filme é bom. Contudo, a obra é um exemplo de como reacender a memória do público e seguir numa nova história é uma tarefa complicada, carecendo de paciência e preciosismo, características que faltaram para McQuarrie na produção do primeiro ato, ou, como carinhosamente chamado por este autor, “Tenebrato”.
“TENEBRATO”
De antemão, é interessante avisar que, nesta parte do texto, a palavra 'nostalgia' será usada com conotação negativa, contudo, isso não deve ser interpretado como iconoclastia por parte deste autor, mas sim um reflexo do que todo o primeiro ato de Missão Impossível queria trazer para seu público — ALERTA DE SPOILER, não conseguiu.

A maior falha do “Tenebrato” está justamente na tentativa de produzir takes rápidos que contextualizam a posição de personagens importantes de outros filmes da franquia, na narrativa que se segue nesse. O problema é que essa decisão tira o peso de algumas situações que ocorrem neste ato. Essa decisão é tão dóida que acaba, inicialmente, descaracterizando até o próprio Ethan Hunt, conhecido por sua preocupação para com aqueles que ama.
A caça à nostalgia é brutal. A todo momento, há uma procura por trazer os espectadores para aquele respingo de felicidade que surge ao captar uma referência na cinematografia que remete ao passado. Entretanto, ao longo do filme, há instantes em que isso é feito de forma acertada.
No caminho para o encerramento do primeiro ato, há uma perseguição à la Scooby-Doo dos mocinhos para capturar o Gabriel. Inclusive, chega a ser cômico o embaraço que a equipe composta por assassinos, ex-ladrões e agentes sofrem para alcançar um homem velho — detalhe, não conseguiram. Eles saem de porta em porta como no desenho animado até que o Ethan e a sua trupe magicamente encontram um elemento decisivo que aparece de forma conveniente — no lugar certo, na hora certa, exatamente quando todos menos esperavam.
O “Tenebrato” não é de todo ruim. Ele entrega a despedida de um dos personagens mais amados dos filmes anteriores de um jeito que te tira o fôlego. O problema, mais uma vez, é que a sequência que sucede este acontecido te faz sentir como se Hunt não desse valor a uma das pessoas mais importantes de toda a obra. Desse jeito, o primeiro ato é de fato tenebroso. Aqui, no “Tenebrato”, o efeito é oposto; os takes afastam o público da obra e te fazem pensar imediatamente nas contas que você tem a pagar ou na prova daquele professor carrasco na quinta-feira que vem. Ah, e por favor, McQuarrie, pare de usar plano holandês(e over the shoulder também).
O FUNDO DO MAR
Toda estranheza que o primeiro ato do filme te causa desaparece na virada pela qual o longa-metragem passa em uma cena que ocorre no fundo do mar. Deste ponto, até o final da obra, torna-se impossível tirar os olhos da tela, tamanha o frenesi com que as situações se desenrolam.

A tensão da sequência submersa é suficiente para deixar qualquer espectador boquiaberto. Sempre parece que tudo vai dar errado — até que dá certo... e puft, dá errado de novo. Esse plot twist em cima de plot twist é a assinatura Missão Impossível e te faz lembrar o motivo pelo qual você foi ao cinema; ficar extasiado com a sequência ininterrupta de eventos surpreendentes, perfeitamente replicada neste filme de encerramento.
Toda Missão: Impossível precisa ter sua cena espetacular — e extremamente mentirosa — e, dessa vez, não foi diferente. Missão: Impossível – Acerto de Contas: Parte 1 baseia todo o seu marketing na honrosa cena da montanha, em que Ethan salta do topo de um penhasco colossal. Já na Parte 2, a história é outra. Se lá o inimigo era a montanha, aqui é o impiedoso mar.
As duas cenas são similares em conceito — Ethan fazendo algo impossível —, mas a aflição provocada pela sequência subaquática é surreal. Ela se estabelece como uma das melhores de toda a franquia Missão: Impossível — ainda que você precise fechar bem os olhos, pois é óbvio que nada daquilo é humanamente possível.
A VILANIA
A virada de chave que ocorre na transição de atos não se restringe aos mocinhos ou ao frenesi das cenas de ação. Os algozes do Ethan Hunt são impactados pela melhora súbita do longa-metragem, seus planos começam a se encaixar e por isso, tudo ameaça sair do controle. Um reforço narrativo que é dado às suas personalidades, mas também a missão do personagem vivido por Tom Cruise enquanto o heroi que irá salvar a tudo e a todos.

Algumas das expectativas quanto aos vilões do filme não são alcançadas, a rivalidade Gabriel x Ethan Hunt atinge seu ápice em um daqueles takes que a suspensão de descrença cai fora. Para o público, fica o desejo de que algo mais acontecesse, o que não torna o encerramento dessa batalha fraco ou irrelevante. Pelo contrário, é uma das tomadas de decisão dos roteiristas que Christopher McQuarrie entrega com qualidade e louvor.
A rivalidade Gabriel x Ethan Hunt não é a única que se destaca no decorrer do filme. Os outros dois núcleos narrativos e vilanescos também cintilam quando chegam seus instantes nos filmes. A IMF, voraz na caça ao Ethan Hunt, segue com o objetivo de apreender a chave celestial e assim controlar a Entidade. Suas tentativas não são vazias, ainda que seus personagens funcionem como ponte para a exaltação de toda a história passada de Ethan Hunt, há um gancho magistral resgatado de um dos filmes antigos que faz o queixo cair.

Por fim, a Entidade. Uma IA super-avançada capaz de prever o futuro é controlar todo o ciberespaço. Aqui, ela é um Deus, todas as ações de Ethan Hunt são guiadas pelos desejos da Entidade, salvar o mundo por meio da sua destruição é um anseio clichê em vilões de filmes de ação de modo geral. Entretanto, a sagacidade que existe nesse deus ex-machina vem justamente do fato que ela não atua de forma material para que seu plano dê certo. A Entidade usa o Ethan Hunt, seu amor pelos amigos e a sua busca por resolver todos os problemas do mundo para atingir o maior de seus objetivos; se proteger enquanto vê o mundo arder em chamas nucleares.
IMPOSSÍVEL É NÃO GOSTAR

Missão: Impossível - O Acerto Final é uma oportunidade perfeita para quem busca uma distração divertida nos fins de semana. A estética visual é belíssima e a trilha sonora faz questão de lembrar o quão perigosas são as jornadas de Ethan Hunt na tentativa de salvar o mundo. Para um encerramento de franquia, o filme atende todos os pré-requisitos imaginados em uma despedida, ainda que da maneira mais “Missão Impossível” de ser. O gostinho de “quero mais” lateja nos corações de cada espectador, o que, para ser sincero, é reforçado pela primorosa atuação de Tom Cruise e Simon Pegg ao longo de toda a obra.
Para os amantes dos chamados filmes de “hominho” — cheios de ação, suspense, reviravoltas e uma tremenda suspensão de descrença —, Missão: Impossível - O Acerto Final reúne tudo o que faz um longa desse estilo valer a pena. Em suas 2 horas e 49 minutos, ele oferece tudo aquilo que se espera de um encerramento de franquia.
NOTA: 3,5/5
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