CRÍTICA | A Sala dos Professores finge que vai longe
- Roger Caroso
- 10 de mar. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 8 de jun. de 2024

Chegando na reta final da maratona do Oscar 2024, vamos com o indicado da Alemanha para Melhor Filme Internacional, Das Lehrerzimmer, ou em português, A Sala dos Professores.
O longa dirigido por İlker Çatak não é diretamente baseado em uma história real, mas possui inspiração em acontecimentos reais. Acompanhando o dia-a-dia da professora do 7° ano, Carla Nowak, vendo sua convivência com os alunos e corpo técnico do colégio. Contudo, as fundações da escola são abaladas com a intensificação de uma série de roubos que vem acontecendo na instituição.
É um filme com uma intenção clara, gerar o maior número de conflitos em sequência sem a menor tentativa real de os frear. Existe uma construção de causa e consequências que vai escalonando em uma forma nada progressiva e pouco dialética. Visto que Carla Nowak gosta muito da teoria de seus ensinamentos em seu papel de educadora, os defendendo até quando perdem seu sentido.

A Sala dos Professores se inspira nas grandes narrativas de escalonamento no cinema, a forma de quando uma pequena ação toma contornos que fogem completamente do controle do protagonista, como por exemplo, o clássico de Martin Scorsese “After Hours” (1985). Todavia, uma marca desse tipo de filme é a nossa compreensão e entendimento de como as coisas ficam mais graves e aqui nós temos de basicamente ir na do filme sem questionar muito.
Nesse universo escolar, todos já estão com os nervos à flor da pele, qualquer comunicação tem segundas intenções e quase sempre é levada para um lado de briga. Não importa quantas conversas aconteçam, os personagens seguem por seguir grandes dogmas invisíveis.
Ponto esse, que é sempre lembrado pela nossa protagonista, Carla entra em uma missão de santificação da sua moral educadora que jamais lhe abala, ela tem tanta fé no seu papel na sociedade, que decide não falhar de jeito nenhum com seu papel na sociedade. A vez em que ela apontou o dedo a alguém, a situação ficou feia, então, agora ela se torna isenta de tudo que tange culpar alguém que não seja ela. Existe uma crença tão forte na personagem de que ela pode mudar a visão dos outros, que isso lhe cega completamente para os verdadeiros abusos.

Nessa tentativa de situação escolar que vai descarrilhando completamente, me lembra um longa nacional de 2019, Volume Morto, que assim como ele, encara o universo da escola por meio dos seus princípios fundamentais educativos misturados com uma situação de tensão e falta de comportamento e compreensão.
Ambos possuem essa veia de levar seus personagens ao limite, mas A Sala dos Professores aumenta o escopo, não se prendendo a apenas uma sala, mas a todo ambiente do colégio. Os locais ficam marcados e já esperamos a volta neles, se acostumando com esse ciclo diário de como as coisas vão se desenvolver.
A estrutura do roteiro mostra as situações sempre pelo olhar de Carla, de como ela mesmo sendo acusada por todos os lados, transparece uma falsa confiança sobre a sua autoridade no momento. Esse é o ponto que faz o espectador pensar sobre a decisão dela, será que ela está sendo injustiçada ou cometeu uma injustiça?
Essa construção cria a necessidade do desenvolvimento da situação central. Enquanto isso, o filme começa a se interessar mais em como alguns personagens em específico são levados pelo acontecimento e pelo seu poder de manipulação. O poder de verdade se perde pelo poder de quem grita mais alto e quem tem mais jogo de cintura para seguir com as coisas.

Costumeiramente, eu defendo finais ambíguos, mas quando sua história os pede. No sentido desse longa, é perdido o poder de razão, era necessário um final contundente para fincar a situação para algum dos lados. Da forma que é finalizado, ninguém ganha, todos perdem, fica um o encerramento sem muita coragem, joga pro público dar sua visão em um momento que o filme deveria oferecer a completude da imagem.
A Sala dos Professores é uma tentativa de embarcar na ideia fundamental da educação sobre a vista de um professor muito crente no seus princípios. Esta crença é constantemente posta à prova pelos desdobramentos que sua ideologia lhe confere. Basicamente, uma versão contrária do clássico escolar, Eleição (1999), do Alexander Payne, as influências dos alunos contra dos professores, mas dessa vez postos pelos lados contrários.
P. S. Os pseudojornalistas desse filme me irritaram profundamente. Abraçaram a persona de bastiões da informação e conhecimento da forma mais insuportável possível, construindo o retrato mais fidedigno de crianças insuportáveis, mimadas e com delírios de grandeza. A tal da pretensão juvenil. Dito isso, como qualquer jornalista, eu também já fui assim.
Nota: 3/5
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