CRÍTICA I Nosferatu é um olhar sombrio e sensual, mas turvo
- Vitor Rocha
- 2 de jan.
- 2 min de leitura
Atualizado: 12 de jan.

Robert Eggers, conhecido por obras como O Farol e A Bruxa, despertou grande expectativa ao anunciar sua releitura do clássico Nosferatu (1922), de F.W. Murnau. O diretor, celebrado por seu domínio do "terror atmosférico", parecia ser a escolha ideal para revisitar uma obra que há mais de um século consolidou sua força na ambientação e estética. No entanto, entre uma abordagem sexual bem mais direta que as outras versões, justamente a ambientação e fotografia são o que tornam esta versão do diretor aquém das outras.
Ao optar por uma paleta cinza quase monocromática, Eggers abandona o contraste marcante do preto e branco do original, elemento essencial para o impacto visual do filme de Murnau. A falta de cores vibrantes ou sombras expressivas resulta em cenas visualmente apagadas, muitas vezes dificultando a percepção do que acontece na tela.
O que no clássico era um jogo de luzes e sombras hipnótico se transforma, nesta versão, em uma monotonia visual que enfraquece a experiência do espectador. Ironicamente, sua versão é menos colorida que a de 1922, que utilizava películas coloridas em momentos específicos para intensificar a narrativa. A escolha estética pela sobriedade e apatia reduz a força do filme, privando o público de um dos elementos mais impactantes da mitologia de Nosferatu.
Além disso, o retrato da praga que assola a cidade é simplificado em comparação com outras versões, como a de Werner Herzog, lançada em 1979. Na obra de Herzog, a praga transcende o mero contexto narrativo, alterando as dinâmicas sociais e aprofundando o terror psicológico da história. Já na versão de Eggers, o foco recai quase exclusivamente sobre os casais Thomas (Nicholas Hoult) e Ellen (Lily-Rose Depp) e Friedrich (Aaron Taylor-Johnson) e Anna (Emma Corrin), reduzindo o impacto sociocultural que poderia ser explorado.
Por outro lado, a caracterização de Nosferatu por Bill Skarsgard merece destaque, mesmo que o personagem tenha uma presença limitada em tela. Sua figura grotesca traz uma roupagem moderna para o vampiro. O foco narrativo também é ampliado, explorando a tentação que Nosferatu representa para a personagem de Lily-Rose Depp. Embora seja uma ideia intrigante, a execução deixa a desejar pela falta de sutileza. Diálogos expositivos frequentemente subestimam a inteligência do público, tornando óbvios temas que poderiam ser trabalhados de forma implícita.
A cena em que o protagonista, Thomas, vivido por Nicholas Hoult, discute sua impotência sexual enquanto Ellen expressa seu desejo reprimido é emblemática do problema maior do roteiro. Ao invés de confiar na força das imagens, Eggers opta por diálogos e situações que "explicam" a narrativa de maneira excessivamente direta, como uma cena de sexo desnecessariamente didática que parece mais interessada em sublinhar os pontos da trama do que em contribuir para a atmosfera ou o desenvolvimento dos personagens.
Apesar de algumas escolhas interessantes, como a nova dinâmica entre os personagens e a ousadia em reinterpretar um clássico do terror, a obra de Eggers fica aquém do esperado. O Nosferatu de 2024 não consegue alcançar a mesma profundidade visual e simbólica de suas versões anteriores. Embora tenha elementos que merecem apreciação, sua execução desbalanceada compromete a experiência geral, deixando a sensação de que, desta vez, Eggers não esteve à altura do legado que tentou revisitar.
Nota: 2,5/5
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