CRÍTICA | O Menino e a Garça é a despedida emocionante de Hayao Miyazaki
- Vinícius Nocera
- 22 de fev. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 8 de jun. de 2024

Hayao Miyazaki é um diretor que dispensa apresentações. Uma lenda viva, tanto para o cinema japonês, quanto para o mundo, com seus filmes animados que tocaram, tocam e ainda vão tocar o coração de muitas pessoas de diferentes idades e lugares do planeta.
Como um dos donos do Studio Ghibli, uma das únicas empresas de animação que consegue rivalizar com a Disney em termos de notoriedade global, e sendo o único diretor oriental a ganhar o prêmio de Melhor Animação no Oscar, Miyazaki já havia anunciado sua aposentadoria em 2013, no ano do lançamento do seu então último filme “Vidas ao Vento".
Porém, o diretor surpreendeu a todos quando decidiu sair de sua, até então, aposentadoria e embarcou em mais uma jornada. Aos 83 anos, Miyazaki decide dirigir e escrever mais uma animação, chamada aqui no Brasil de O Menino e a Garça.
HAYAO MIYAZAKI E A GARÇA
Na história, acompanhamos um garoto chamado Mahito, que após perder sua mãe em um incêndio, acaba se mudando com seu pai para a casa de sua madrasta. Lá, ele conhece uma garça falante, que lhe trata como alguém que era “esperado há muito tempo”.

Antes de começar a falar sobre o filme, é necessário explicar o motivo de começar essa crítica escrevendo sobre o Miyazaki, e não sobre o filme em si, como de costume. O Menino e a Garça, muito mais do que apenas uma lenda sobre um menino chamado Mahito com uma ave falante, é sobre outra coisa bem maior. É um filme sobre a lenda da figura de Hayao Miyazaki.
O diretor parece que quis colocar uma parte de si em cada canto do filme. Nos personagens, na estética, na trilha sonora e na trama. Além de existir referências de outros trabalhos seus, ele consegue transpor perfeitamente uma sensação que me fez ficar vermelho de tanto chorar no final da sessão: essa é a sua despedida para o cinema.
Não necessariamente o diretor japonês vai se aposentar definitivamente após esse projeto, ele ainda pode sair de novo da aposentadoria e continuar trabalhando. Mas essa é, sem sombra de dúvidas, a sua despedida. E o filme abraça isso em sua própria estética e trama.

Durante o longa, Miyazaki propõe uma discussão sobre toda a sua carreira. Quem ele foi, qual a sua importância para a indústria e qual será o seu legado. Mas o mais importante de tudo: o que fazer quando seu tempo acabar? Essa pergunta acaba entrando em sincronia com o título original em japonês do filme, em tradução livre, “Como Vocês Vivem?”.
O AMOR DE UM ARTISTA
A direção do filme é simplesmente incrível. É notável o cuidado que o diretor teve com a composição das cenas. Além disso, o filme é extremamente lindo e fluido. Não aquele suposto “lindo” de um 3D genérico, como as empresas de animação geralmente tentam vender seus filmes como bonitos atualmente, mas um lindo de muito amor e cuidado, da forma que um artista tem com a sua obra.
A trilha sonora é impecável, chegando a arrepiar quando ela ganha força. A composição é feita por Joe Hisaishi, um antigo colaborador do Miyazaki, que trabalhou com ele durante grande parte de sua carreira.
A trama do Mahito é também muito interessante. Os personagens são extremamente carismáticos e interessantes em um geral, e a história envolve o espectador completamente, em um ritmo que eu me apaixonei. Ela não tem pressa, vai conduzindo a aventura conforme o Mahito está pronto para se aprofundar e seguir em frente, e isso também acaba fazendo parte da temática do filme.

CONCLUSÃO
O Menino e a Garça é muito mais que um filme de animação. É a constatação, reflexão e despedida de uma das maiores lendas do cinema atual.
Aqui vai uma provocação. Você, leitor do Moqueka, consegue citar um diretor de algum filme animado da Disney? Miyazaki quebra esse paradigma na indústria de filmes animados, sendo um dos únicos diretores de animação que é lembrado pelos seus trabalhos, em vez de apenas ser escondido pela figura da empresa de animação. Um artista que continuou autêntico mesmo após mais de 30 anos de carreira, criando filmes que genuinamente tinham tanto sua mão quanto seu coração.
Eu não amei todos os seus trabalhos, tenho críticas com alguns deles, mas nunca neguei sua capacidade de criar. E em O Menino e a Garça, mais uma vez, Miyazaki me fez tirar o chapéu, não só para o seu filme, mas também para toda a sua carreira e sua figura como artista.
Nota: 5/5
Comments