CRÍTICA | Em Ursinho Pooh: Sangue e Mel, quem sangra são os meus olhos
- Alan Pinheiro
- 11 de ago. de 2023
- 4 min de leitura
Atualizado: 8 de jun. de 2024

Era uma vez, em um bosque muito amigável, uma turma de animais que brincavam e se divertiam com o seu amigo humano, Christopher Robin. Acredito que você, leitor, saiba de quem eu estou falando. Em “Ursinho Pooh: Sangue e Mel”, os famosos personagens criados por Alan Alexander Milne são usados em uma história de horror com mais falhas do que acertos.
Na trama do filme, Christopher Robin precisa deixar os animais do Bosque dos 100 Acres para ir à faculdade. Quando a vida dos personagens se torna difícil, eles precisam tomar decisões drásticas para sobreviver e acabam se voltando às suas raízes animalescas. Após isso, fazem uma promessa de nunca mais falar e juram vingança aos humanos e, principalmente, ao menino que os abandonou.

Nos Estados Unidos, após o 96º ano de publicação, as obras se tornam de domínio público e podem ser distribuídas, adaptadas, interpretadas ou continuadas sem necessidade de autorização formal ou taxa. No dia 1° de janeiro de 2022, os livros originais do Ursinho Pooh, publicados em 1926, saíram do limite legal e tiveram seus direitos expirados. Sem muita demora, o diretor e roteirista Rhys Frake-Waterfield aproveitou a oportunidade para produzir uma versão slasher do clássico infantil.
Primeiramente, acho importante citar todas as qualidades do filme. As cenas animadas são realmente muito boas. E sim, isso foi a única coisa positiva. Esse recurso é utilizado somente em duas ocasiões, mas genuinamente funciona, devido ao estilo da arte que lembra as figuras dos livros originais. Além disso, há um toque macabro na figura dos personagens que combina com a proposta do longa. No mais, a animação acaba se destacando em relação ao resto do filme e a sensação é de que seria melhor se os 84 minutos fossem completamente animados.

O roteiro de “Ursinho Pooh: Sangue e Mel” talvez seja o pior aspecto do filme. Toda construção de narrativas acaba por ser esquecida rapidamente, personagens são apresentados com o único propósito de tomarem as decisões mais burras já vistas em tela e serem mortos da forma mais grotesca possível e as motivações dos vilões são totalmente inconstantes. Em certo momento, você não sabe mais qual é o motivo do Pooh e do Leitão seguirem com a matança, já que o filme flerta com diferentes motivos, mas não escolhe nenhum para se aprofundar. E você pode me dizer que é porque eles odeiam todos os humanos. Ok, mas o que eles fazem com as vítimas? Se alimentam do sangue, da carne humana ou fazem rituais demoníacos? E como escolhem quem vão matar e quem vai ser levado para o esconderijo? As conveniências também aparecem constantemente e prejudicam a experiência ainda mais.
A direção também não fica muito para trás, estragando todos os momentos de tensão com cortes excessivos e enquadramentos que não aproveitam o potencial das cenas. Tudo é muito demais. A tremida na câmera é demais, a angulação é demais, é tudo ridículo DEMAIS. Outras decisões tomadas também incomodam, como a nudez desnecessária. A impressão que passa é a de que o diretor queria ver o corpo das atrizes e aproveitou a primeira cena que pôde para abusar disso. Na verdade, nem aproveitar foi, já que a roupa da personagem é arrancada do corpo dela de forma vergonhosa. Tudo isso de graça e sem motivo. Aliás, a obra toda possui um ar meio erótico, principalmente com o Leitão.

O Christopher Robin, figura principal nas histórias originais, é muito mal usado. Ele é apenas um artifício para o roteiro te mostrar que essa história é sobre os personagens que você já conhece. Caso contrário, poderia ser qualquer um em seu lugar. O Pooh e o Leitão também são caricaturas de monstros já conhecidos pelos fãs de terror. O urso é praticamente um Michael Myers depois do vício em mel. Também não posso deixar de comentar sobre o péssimo visual das criaturas. Possuem máscaras ridículas, sem nenhuma expressividade e tão caricatas que te jogam num limbo entre rir da tosquice e sentir pena dos atores terem que botar isso na cabeça.
Falando de atores, nenhum se salva. As atuações fraquíssimas se somam a personagens mal escritos para entregar um sentimento horrível ao assistir. Um verdadeiro show de horrores. Se você procura carisma, não vai achar aqui. O caricato é somado a uma tentativa de drama e o filme não se decide para onde quer ir e nem onde quer levar suas personagens. Pensando com calma, o roteiro só quer matar mulheres e não se importa com mais nada sobre elas. Quem são, quais suas personalidades, o que querem? Não importa.
É Trash?
Com todos os defeitos listados, surge a dúvida se essa obra não poderia ser definida como um filme trash. Geralmente, as obras que pertencem a esse sub-gênero possuem algumas características semelhantes, como o baixo orçamento, a falta de brilhantismo no roteiro, elencos baratos, momentos toscos e, principalmente, o humor. Porém, é importante citar que todos esses atributos compõem a estética, ou seja, são propositais.

É justamente no fator principal dos filmes trash que faz a obra do ursinho sanguinolento não ser nada mais do que um filme ruim. Ele não abraça as suas limitações e se leva a sério demais, tentando emplacar momentos dramáticos e discussões que são muito mal aproveitadas. Fica até alguns questionamentos: Por que os personagens decidem coisas e não fazem? Cadê a polícia? Quem ensinou o Ursinho Pooh a dirigir? Ele passou no psicoteste? Ele tem CNH?
Veredito
Ursinho Pooh: Sangue e Mel falha na direção, no roteiro, na atuação, em todo o resto e definitivamente parece ter sido feito às pressas e sem muita preocupação, já que somente a ideia de subverter personagens famosos já venderia. É o fracasso total do domínio público.
Nota: 1/5
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