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Crítica | Em Barbie existe algo além de críticas sociais?

Atualizado: 8 de jun. de 2024

Novo filme da boneca chegou aos cinemas levantando debates sobre machismo e dividindo a opinião do público

Barbie olhando no espelho
Foto: Divulgação/ Warner Bros

Criada em 1959 por Ruth Handler, a Barbie é indiscutivelmente um ícone da cultura pop. Quebrando o paradigma de que todas as bonecas deveriam ser bebês, a loira rapidamente alcançou outras mídias, como desenhos, games e agora o cinema. Desde seu anúncio, o filme da Barbie criou uma enorme expectativa no público, principalmente com as pessoas que cresceram brincando com a personagem. A espera chegou ao fim e o que restou foi a pergunta: Será que o filme é realmente isso tudo?


Antes de começarmos, é bom tirar o elefante da sala: ESSE NÃO É UM FILME INFANTIL. Apesar da boneca realmente ser pensada para as crianças, esse não é o caso do filme. O longa é voltado para os adolescentes e, principalmente, para os adultos. O enredo põe em dúvida se a Barbie realmente continua sendo um ícone do empoderamento nos dias de hoje, além de debater questões como capitalismo, padrões de beleza inalcançáveis, sexualização do corpo feminino, dentre outros.


Debate importante, abordagem questionável


A partir disso começam os problemas. Quando foi anunciado um filme da Barbie, era esperado que esses assuntos fossem abordados, afinal, isso envolve o cerne da personagem desde sua criação. Porém, a maneira como os temas são tratados na produção é horrível. Além das mulheres, a mensagem do filme também deveria alcançar o público masculino, uma vez que os homens são os maiores causadores do machismo na sociedade. Mas fica dificil convencer um certo grupo de que ele deveria mudar se tudo o que você faz é dizer “você é idiota”.


Além disso, a própria mensagem que a obra quer passar não faz sentido. Durante toda a produção, é mostrado que as Barbies viviam em um “matriarcado” onde os Kens não exercem nenhum papel importante. Quando os personagens vão para o mundo real, dão de cara com uma realidade invertida, onde apenas os homens exercem os principais cargos de poder e isso dá início a todo plot. Todavia, qual é a primeira solução que eles entregam ao perceber que o patriarcado é algo horrível? Claro, vamos voltar ao que era antes. Afinal, um governo em que apenas os homens tem valor é algo ruim, mas o que apenas as mulheres tem valor é algo bom.

Barbie separando briga entre Kens
Foto: Divulgação/ Warner Bros

Não serei injusto, no final eles até tentam corrigir esse problema, mas, ainda fica nítido que, naquela sociedade, as mulheres continuarão exercendo os principais cargos de poder. Enquanto os homens ficarão responsáveis apenas por funções menores — tal qual no mundo real, mas ao contrário. Além disso, tem alguns diálogos que parecem existir apenas por pura militância sem sentido, como no momento em que a Barbie é chamada de fascista pela personagem insuportável da Ariana Greenblatt — toda a linha de diálogo dessa personagem é uma crítica a alguma coisa.


O que resta além das críticas sociais?


Entretanto, o filme tem sim suas qualidades para além dessas questões. A direção é excelente e muito criativa. O momento em que isso fica mais notável é durante a viagem dos personagens para o mundo real. O percurso é completamente sem sentido e parece ter saído de um clipe musical, ou seja, MARAVILHOSO. É muito bom que a Greta Gerwig, diretora do filme, não tenha medo de usar esse tipo de “magia” em um filme sobre bonecas.


Falando em magia, os efeitos especiais da obra também seguem essa mesma pegada. Tudo lembra um filme dos anos 80 e isso faz a obra ter uma identidade única. Ainda sobre o visual, a Barbielândia realmente parece uma casa de bonecas em tamanho real, totalmente banhada em tons de rosa. Todos os segmentos que se passam no mundo da Barbie tem uma estética que lembra o filme O Mágico de Oz (1939), sendo algo até nostálgico.


Outro ponto surpreendente é a metalinguagem e a quebra da quarta parede. O filme tem uma narradora onisciente e, por conta disso, existem diversas referências à franquia. A mais legal delas é sem dúvidas citar linhas da boneca que foram descontinuadas. A produção é uma ótima oportunidade para a Mattel retornar com esses brinquedos. Por falar na empresa, ela mesmo desenvolve um papel importante na história. A metalinguagem usada para falar da própria empresa dentro da obra foi uma jogada muito certeira.

Barbie dirigindo
Foto: Divulgação/ Warner Bros

Por fim, o elenco também brilha, principalmente a Barbie e Ken principais. Mais uma vez, Margot Robbie está interpretando uma personagem com um toque de infantilidade, o que ela já demonstrou fazer muito bem, mas ainda consegue entregar drama quando precisa. Assim como em The Nice Guys (2016), Ryan Gosling prova que se dá muito bem na comédia e vai te fazer dar boas risadas com seu Ken. Os demais bonecos também recebem seu devido destaque e conseguem incorporar bem a ideia de como seria uma sociedade composta por brinquedos.


E qual o veredito?


Barbie (2023) é um filme problemático e vai dividir a opinião do público. O longa levanta questões importantes e que merecem ser debatidas, porém, o debate proposto sobre esses assuntos se resume em “veja como os homens são ruins”. É inegável que o machismo ainda é presente na estrutura de toda nossa sociedade, mas, propor que todos os homens ou são idiotas ou são machistas (ou os dois) não é a melhor forma de tentar combater esse mal. Pelo contrário, o modo como a obra passa sua mensagem pode fomentar ainda mais o preconceito das pessoas e o ódio vindo dos dois lados.


Entretanto, a produção não se resume apenas nisso. As escolhas visuais foram ótimas em todos os sentidos. O figurino dos personagens e os cenários realmente conseguem transportar a ideia de que aquilo é realmente um mundo de bonecas. Além disso, toda a estética do filme é de algo lúdico, como se fosse um sonho entrando em contraste com a realidade cruel do mundo real. O elenco de peso também é um ponto fortíssimo. Todos os brinquedos tem química entre si e conseguem ter um timing cômico muito bom.


É completamente compreensível que parte do público não tenha gostado e, particularmente, não é algo que eu veria outra vez. Mesmo com certas decisões de roteiro questionáveis e não sendo a coisa genial que alguns estão pintando, ainda entrega boas piadas e um visual bonito.


Nota: ⭐⭐⭐



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