CRÍTICA | Ballerina mostra que o universo de John Wick ainda tem fôlego
- Rafael Cerqueira (Convidado)
- 5 de jun.
- 4 min de leitura
Atualizado: há 6 dias
From the World of John Wick: Ballerina é o fanservice que você nem sabia que precisava

From the World of John Wick: Ballerina, tal como o próprio nome faz questão de deixar explícito, é um spin-off da franquia — de muito sucesso — John Wick. A trama se passa entre o terceiro e quarto filme, no contexto em que a personagem de Ana de Armas é uma assassina treinada pela Ruska Roma para se tornar Kikimora, uma “guardiã espiritual” que protege aqueles que merecem ser protegidos. Nessa aventura, Eve Macarro tem revelações sobre o seu passado sangrento que a colocam em um conflito entre seu devir de protetora e a busca por uma vingança tão almejada.
Apesar do título desnecessariamente longo, o filme se atém ao que nele está escrito; a obra respeita completamente a mitologia que impera no universo John Wick. Todos os personagens da história principal retornam de maneira positiva e possuem traços ou expertises que agregam ainda mais para a sua construção da narrativa. Assistir Ballerina faz o público refletir sobre os demais longa-metragens da saga John Wick e se perder em pensamentos ao imaginar em quais outras histórias esses personagens estiveram envolvidos — e o quão cativante podem ser essas tramas, tal como Ballerina é. John Wick x Eve Macarro Falando em retomada de personagens, é preciso dizer sobre o quão o mito do Baba Yaga é preservado neste filme. Todas as cenas em que o John Wick aparece — e não se preocupe, são poucas — é possível sentir a tensão que sua presença causa a quilômetros de distância. Os momentos de “fanservice” nas participações do Keanu Reeves não podem ser descritos com outra palavra, senão, maravilhosos. Todos os que vivem sentem medo dele, o Bicho-Papão assustador que se esconde nas sombras e elimina a qualquer um que lhe seja ordenado — contanto que você não se esqueça de cumprir a sua parte do acordo.

Ainda que as cenas com o John Wick sejam incríveis, você não irá sentir a sua falta ao longo de todo o filme, pois a protagonista vivida por Ana de Armas é excelente. A conexão entre a personagem Eve Macarro e a atuação majestosa da atriz torna a experiência de assistir Ballerina fenomenal.
Ao lidar com um universo que já possui figuras tão consolidadas, é comum haver o receio de introduzir novos personagens pelo risco de não alcançarem o mesmo impacto. Isso não acontece aqui, uma vez que a personagem de Ana de Armas não apenas se sustenta com força própria, como em determinados momentos chega a ser até mais cativante que o próprio Keanu Reeves em sua saga principal.
Um detalhe curioso é que, embora Ana de Armas seja uma das mulheres mais lindas que você verá na vida, sua beleza se torna secundária diante da personagem. Durante o filme, o que realmente domina a mente do espectador é o quão mortal e sagaz Eve Macarro se mostra, seja empunhando facas, pistolas ou, em alguns momentos, até mesmo granadas.

A curva evolutiva da Ana de Armas enquanto assassina é envolvente. Ela luta de uma maneira singular e característica da personagem. Com Eve, só é possível descobrir seu estilo de batalha depois de ouvir a frase clássica de filmes de ação protagonizados por uma mulher, “lute como uma garota”.
A coreografia de luta é boa, mas é curiosa a decisão de não atrelar dança, agilidade e flexibilidade aos traços de combate da personagem. Dessa forma, Ballerina é um nome que se torna vago, ainda que o filme não seja prejudicado por este fato, essa é uma quebra de expectativa que deixa a desejar.
Vilania
A introdução do vilão e as motivações que guiam a protagonista até ele são ótimas, mas o desenrolar desse processo é questionável. A mística que existe ao redor dos algozes de Eve Macarro é grande o bastante para arrepiar quem está assistindo. No fim, chega a ser broxante quando você descobre que o único objetivo desses vilões temerosos que matam por prazer era viver em paz e formar uma comunidade-família.
ALERTA DE SPOILER
A irmã da Eve Macarro é completamente inútil para a narrativa, ao ponto de que não vale a pena desenvolver nada sobre ela aqui. Basta dizer que a sua presença no filme e o desdobramento da sua história são irrelevantes e se tornam ainda piores pela decisão que foi tomada sobre os rumos que a personagem deveria seguir.
Cenas marcantes
Ao pensar nas cenas mais marcantes desse filme, é impossível deixar de fora o trabalho inicial feito pela personagem de Ana de Armas. Sua primeira missão enquanto assassina é regada a pancadas, sofrimento e dor. Diferente do que é visto no universo de John Wick, aqui temos a oportunidade de acompanhar o início da personagem como matadora — e, ao contrário do que se espera, ela não nasceu pronta. Nesses takes, nota-se como uma iniciante se comporta, um reflexo da execução perfeita da curva evolutiva mencionada anteriormente.

O encontro entre Baba Yaga e Kikimora é excepcional. O duelo entre esses dois mitos da franquia e o choque de realidade no instante em que Eve Macarro nota que não será capaz de sobreviver caso John Wick decida tirar sua vida é de tirar o fôlego. Como mencionado antes, o respeito que o filme tem por quem é o Baba Yaga é louvável. A todo instante, parece que apenas por olhar para John Wick, Eve Macarro morrerá. Portanto, não importa o que ela faça, o momento em que seus caminhos se cruzaram representou o seu fim.
Uma das cenas mais divertidas do filme é também aquela que te cansa bastante. Um confronto emocionante com lança-chamas se estende tanto que chega a lhe roubar toda a suspensão de descrença que a obra tinha sido capaz de segurar até aqui. Alguns podem até fazer caretas ao perceberem que uma capa anti-chamas estava pegando fogo. De qualquer forma, não deixa de ser emocionante ver como o uso de armas “especiais” é bem aproveitado e a sequência inteira é construída para localizar a personagem de Ana de Armas e preparar o terreno para o desfecho de sua história.

No fim do filme, você anseia por uma continuação. Na verdade, soa até óbvio que haverá uma parte dois de Ballerina e acredito que o universo cinematográfico precise disso. Afinal, "From the World of John Wick: Ballerina" é, sem dúvidas, um dos melhores filmes de ação dos últimos dois semestres.
Notas: 5/5