CRÍTICA | Alien: Romulus é um aceno ao passado olhando para o futuro
- Roger Caroso
- 15 de ago. de 2024
- 5 min de leitura

Em meio a um mar de remakes e franquias dominando as salas de cinema, aqui temos mais uma, a 7ª entrada da franquia Alien pode gerar dúvidas para quem vem acompanhando a série nos últimos anos, ou até mesmo a partir dos anos 1990. Contudo, Alien: Romulus é provavelmente o melhor filme desde o clássico Aliens: O Resgate (1986), considerado por muitos (este que vos fala, incluso) o melhor da saga.
O diretor uruguaio Fede Álvarez, conhecido pelo soft-reboot Evil Dead (2013), recebeu as chaves da franquia após Ridley Scott falhar em recapturar a magia original com os longas Prometheus (2012) e Alien Covenant (2017). Longas que não obtiveram o retorno de bilheteria esperado, além de serem extremamente criticados pela imprensa e público — por mais que Prometheus ainda seja um filme polêmico, muito divisivo, com haters e fãs. Assim, a tarefa do uruguaio não era nada fácil, representar um universo em seu sétimo filme e se destacar em meio aos últimos quatro outros filmes, que jamais fizeram sombra à duologia inicial.
Alien: Romulus acontece no gap temporal entre o primeiro e segundo filme da franquia. Aqui nossa tripulação não conta com astronautas ou cientistas, mas sim um grupo de jovens que vivem no regime análogo a escravidão da megacorporação Weyland-Yutani. O grande sonho desse grupo é deixar esse planeta exploratório que não se tem luz solar, quebrar o ciclo de trabalhar até morrer de suas famílias e poder sentir o calor do sol. É nesse contexto que eles fogem em busca de roubar as cápsulas de criogenia de uma nave à deriva que é nada mais, nada menos, que a clássica USCSS Nostromo.

Indo na contramão da tendência do pós-horror, onde filmes desse gênero são apresentados de uma forma muito mais conceitual, desconstruída e com um sentimento de superioridade artística, Alien: Romulus é o retorno triunfal do clássico horror espacial. Recentemente, X: A Marca da Morte (2022) também foi capaz de apresentar esse retorno às raízes, mas nesse caso, aproveitando os elementos clássicos do Slasher e construindo uma obra que conversa com os padrões atuais do cinema, trabalhando em cima dos conceitos já tidos como cliché, os reintroduzindo de forma moderna, mas abraçando o legado histórico. O 7° Alien consegue inspirar esse mesmo tipo de pensamento, a volta às ideias originais, mas de uma maneira atrativa, empolgante e renovadora ao público.
Claustrofobia, tensão e perigos intermináveis, todas essas características são símbolos da franquia Alien, sendo muito presentes nesse novo longa, que mesmo tendo o intuito de remeter ao passado, não tem medo de trazer novidades. Algumas das ameaças apresentadas são de fato engenhosas e criativas, abrindo novos leques para possibilidades dentro da trama, além do fator surpresa e momentos inesperados. Nessa toada, a dinâmica do novo grupo é bem construída de uma forma em que além de gerar a conexão com os personagens, o espectador vai recebendo uma série de expansões desse universo. O filme não ignora Prometheus e ainda abarca conceitos de outras mídias, como o jogo Alien Isolation (2017), então, mesmo que o aceno seja ao passado, a história não se prende a isso, faz questão de homenagear, representar, mas também de subverter conceitos.

Falando diretamente sobre os novos personagens, temos como de costume uma protagonista feminina, a Rain, interpretada pela Cailee Spaeny. A atriz de 25 anos está realmente vivendo um baita momento, muitíssimo elogiada ao estrelar Priscilla (2023), uma das principais no ótimo Guerra Civil (2024) e agora responsável por liderar o melhor filme da franquia Alien em quase 40 anos. A Rain não se apoia em tentar imitar a grande leads da saga, a Ripley (Sigourney Weaver). Aqui elas constrói, junto ao roteiro e direção, uma pessoa com muitas dúvidas e tenta não transparecer esse lado em prol de seu irmão Andy (David Jonsson).
Tyler (Archie Renaux) representa um arquétipo clássico de líder, onde tem uma missão a ser cumprida, mas ainda tem um soft-spot de um relacionamento com Rain, ou seja, nada muito fora da caixinha. Kay (Isabela Merced) entrega um certo lado maior na vulnerabilidade como a personagem feita para sofrer e enfrentar uma certa situação famosa na franquia Alien, no geral, boa personagem, mas também nada tão surpreendente. Björn (Spike Fearn) é o clássico escrotinho com uma bagagem básica, um hater profissional que fica um pouco cansativo até certo ponto, sua melhor faceta por meio da relação com Navarro (Aileen Wu), que é utilizado como ponto de conflito.
Enquanto isso, a trama tem o principal coadjuvante em Andy, o androide programado para agir como irmão de Rain. De cara, a dinâmica do personagem já chama atenção, gerando até um dúvida sobre representatividade neuro-divergente, mas na realidade ele entra na história para ser o integrante “robô” da equipe, mais uma característica símbolo da série. Sua construção, relação e conflitos estão com certeza entre as melhores partes do longa, uma excelente adição e que honra o manto de Ash (Ian Holm) e Bishop (Lance Henriksen).

Por mais que se atenha a uma história mais direta e uma narrativa mais crua, isso não quer dizer que o filme seja menos interessante, inteligente e competente. Aqui, a ambientação é parte fundamental da experiência do espectador, então, poder ver cenários práticos com uma ótima complementação em CGI é um verdadeiro prazer. Um espaço verdadeiramente espacial, naves com peso e planetas quase tateáveis, cada um desses elementos trabalhando em conjunto para o senso estético da obra. Todos esses pontos são ainda mais reafirmados a partir da fotografia e iluminação, o jogo de sombras, o aproveitamento de cores para marcarem o ambiente, ressaltando esse belo trabalho do mexicano Galo Olivares, que colabora essencialmente para que os sentimentos e sentidos empregados por Álvarez cheguem ao público.
Outro lado fundamental é a trilha sonora que em meio a um espaço tão abrangente, o compositor Benjamin Wallfisch entrega tons renovadores a filmes espaciais. Diferentemente de longas com trilhas baseadas puramente e serem épicas por estarem nesse ambiente tão magnânimo, aqui a música ganha respiros e momentos de intercalar o sons a partir da beleza, contexto e situação desse local.
No geral, Alien: Romulus se destaca ao aliar o que já deu certo com a vontade de entregar uma experiência engajada que também não precise dar voltas e voltas em meio a complicações. Quem sabe-se esse longa não pode se tornar um Star Wars: O Despertar da Força (2015) para a franquia Alien, mas de preferência, mantendo uma linha de pensamento e storytelling compatível entre possíveis futuras sequências. Contudo, o próximo passo para a saga sequer virá das mãos de Álvarez, mas sim de Noah Hawley (das séries, “Fargo” e “Legião”), com a série Alien: Earth, que estreia em 2025.
Nota: 4/5
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