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CRÍTICA | A Freira 2 é uma sequência melhor, nada além disso

Atualizado: 8 de jun. de 2024



Quando Nick Fury começou o seu plano de reunir os vingadores em 2008, o líder da S.H.I.E.L.D não imaginava que existia uma força ainda maior que pessoas em armaduras ou com escudos de metal para lidar com os problemas da Terra. O erro do agente foi ter desconsiderado a Igreja Católica, instituição conhecida, obviamente, pelos seus lutadores ilustríssimos, como o padre boxeador em “O Exorcista” e agora a Irmã Irene, freira com poderes sobrenaturais. Em “A Freira 2”, o público é levado a mais um filme da Marvel de Igreja contra o mal.


A sequência é ambientada em 1956, quatro anos após os acontecimentos do primeiro filme. Agora, uma série de assassinatos com pessoas ligadas à Igreja Católica volta a acontecer e a autoria desses crimes está relacionada com a ameaça de Valak, demônio que escolhe a forma de uma freira para assombrar as suas vítimas. Após supostamente ter sido derrotado, o anjo caído, em posse do corpo de Maurice (Jonas Bloquet), vai até a França para cumprir o seu novo objetivo. A partir disso, o Vaticano convoca a Irmã Irene (Taissa Farmiga) para investigar as mortes e erradicar o mal, novamente.

A Freira 2
Foto: Divulgação/ Warner Bros

“Irmãos, não queremos que vocês sejam ignorantes quanto aos que dormem, para que não se entristeçam como os outros que não têm esperança. Se cremos que Jesus morreu e ressurgiu, cremos também que Deus trará, mediante Jesus e com ele, aqueles que nele dormiram” (Tessalonicenses 4:13-14)

De certo, você irá se deparar com diversos comentários negativos sobre o longa. Muitos dormiram, alguns riram e poucos saíram satisfeitos com a experiência. Eu fui um desses que não acharam o novo filme do universo “Invocação do Mal” de todo mal (desculpe o trocadilho). Inclusive, é melhor do que o primeiro, mas não que isso signifique muita coisa, já que o anterior é um dos piores filmes de terror que tive o desprazer de assistir. Nele, nenhum elemento da franquia que ganhou o coração de milhões de fãs ao redor do mundo estava presente. Apenas o vilão que dá nome ao filme.


Em “A Freira 2”, há uma clara tentativa de consertar o desastre e voltar para a fórmula James Wan. Um núcleo familiar presente, enfoque nas relações entre os personagens e elementos sobrenaturais criativos. Além disso, não pode faltar um final recompensador para o público que vai passar duas horas sentados na poltrona do cinema (ou do sofá de casa) e não pode voltar para casa sem uma sensação de alívio.


Falando da trama, a história não te faz pensar que vai ser algo além do proposto, mas atrasa as revelações ao máximo que pode para alongar a duração. Com isso, a sensação de cansaço certamente deve aflorar em algum momento. Os personagens são divididos em dois núcleos, que somente vão interagir mais para o final. No primeiro, a busca das freiras pelo paradeiro de Valak. Já no segundo, o internato onde Maurice se encontra na França. Essa divisão, funciona no sentido de afastar a solução do problema e gerar mais cenas de interação entre a menina e a mãe que se aproximam do rapaz possuído. Para você que gosta do “Invocaverso”, sabe muito bem que o amor e os laços familiares são as melhores armas para a luta contra os servos do mal. Claro, além de Deus.


“No amor não há medo; ao contrário, o perfeito amor expulsa o medo, porque o medo supõe castigo. Aquele que tem medo não está aperfeiçoado no amor” (1 João 4:18)

Sophie e Kate
Foto: Divulgação/ Warner Bros

Porém, mesmo com a decisão de voltar a mostrar uma “família” com destaque, essa relação não é bem explorada e acaba se mantendo na superficialidade. Em certo momento, surge um signo desse laço entre Maurice e Sophie, mas ele é deixado de lado, não sendo bem explorado, principalmente no clímax do filme. Aliás, toda a sequência final remete a algum produto da Marvel. Apesar da busca por uma das jóias do infinito artefato sagrado (mais um), tudo é resolvido da forma mais cristã possível. Afinal, Deus é a maior fonte de poder de todos os universos cinematográficos.


Entendo quem achou tudo muito forçado, mas o universo criado pelo James Wan já se mostrou não estar nem aí para a coerência com a realidade. E por que deveria haver isso? Expurgar um demônio com base no amor ou ter visões do passado e do futuro não me parece muito condizente com o mundo que vivemos. Se você pode assistir a uma franquia que te faz acreditar em um super soldado que ficou 70 anos congelado e sobreviveu, por que reclamar de uma mulher de fé com poderes? Óbvio, muito do universo é como uma propaganda cristã. Mas, com todo o respeito, quem não tem vontade de ver o padre Marcelo Rossi saindo na mão com um demônio é totalmente pirado da cabeça.

“Além disso, usem o escudo da fé, com o qual vocês poderão apagar todas as setas inflamadas do Maligno” (Efésios 6:16)

Sobre a direção, particularmente não sou um entusiasta do americano Michael Chaves, mas é preciso elogiar o filme pela diversificação nos elementos de terror. O jumpscare ainda é usado, mas em menor quantidade em relação ao título anterior e com maior qualidade. Quando um comediante vai contar uma piada, ele precisa narrar todo um contexto que serve de preparação para o público estar apto a rir. Então, quando chega a hora, basta apenas uma frase para fazer a plateia gargalhar. Preparação, antecipação e Punchline, esses são elementos usados na comédia, mas que também funcionam perfeitamente no terror. Nada adianta aparecer um monstro na tela se não há uma preparação mental do público para isso. O primeiro filme peca nesse quesito, já que muitos dos sustos acabam não tendo impacto pela falta de contexto e de criatividade.


Porém, o longa da freira maldita ainda conta com outros momentos diversificados do gênero horror. O filme não tem medo de mostrar a figura de Valak e deixar o demônio ter tempo de tela. Confesso que, para mim, a saturação do personagem me tirou da imersão e prejudicou a minha experiência, mas talvez seja melhor para quem não está tão habituado com a freira. Em alguns momentos, o filme chega a flertar levemente com o torture porn e em outros usa de um terror contemplativo, o que se mostra como um diferencial. A cena da banca de revistas é o grande destaque e o maior acerto da produção. Aliás, se você é fã de Invocação do Mal 2, sabe que as letras que formam o nome do demônio estão espalhadas pelo cenário. Então se prepare para mais um exercício de percepção.


A Freira 2
Foto: Divulgação/ Warner Bros

“Não fui eu que ordenei a você? Seja forte e corajoso! Não se apavore nem desanime, pois o Senhor, o seu Deus, estará com você por onde você andar" (Josué 1:9)

O elenco conta com Taissa Farmiga (Irmã Irene), Jonas Bloquet (Maurice), Katelyn Rose Downey (Sophie), Anna Popplewell (Kate), Bonnie Aarons (A Freira) e Storm Reid (Irmã Debra). Apesar dos nomes, o roteiro não consegue lidar igualmente com todos, o que transborda para as atuações pouco chamativas. Quanto aos personagens, os arcos dos personagens são tão emocionantes como um diabético com fome em aniversário de criança. Esse sentimento aparece, principalmente com Debra, a freira cética. Há até um potencial de explorar a fé em uma pessoa obrigada a estar num ambiente de culto a Deus, mas o momento onde ocorre essa virada parece tão apressado e forçado quanto o final.


Além disso, o nome mais chamativo foi deixado de lado. Taissa Farmiga mostra uma Irene com mais personalidade e maturidade, mas o longa não a deixa livre para explorar essas novas nuances. Com isso, os holofotes são jogados para Maurice. O ator belga até consegue transparecer um bom possuído (não que isso tenha muito mérito), porém falta um brilho em sua atuação que Patrick Wilson tem de sobra.


Como um filme pertencente a um universo cinematográfico, existe uma grande revelação sobre a franquia principal que certamente gerará teorias sobre o quarto, e último, filme Invocação do Mal. Ah, para variar, tem uma cena pós créditos.


“Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou" (Apocalipse 21:4)

A Freira 2
Foto: Divulgação/ Warner Bros

“A Freira 2” vai sofrer com aqueles que forem com má vontade para as salas de cinema. Você já sabe o que esperar, pois então vá sem expectativas e talvez tenha uma boa experiência. O mérito do filme está em tentar replicar a fórmula de sucesso da franquia “Invocação do Mal”, mas a execução acaba sendo como uma criança aprendendo a andar. Primeiro engatinha, tenta se levantar e cai em seguida. Bom, pelo menos tentaram.


Mas não se acanhe com a crítica ou com a nota, caro leitor. Assista e tire suas próprias conclusões. Mas depois volte para este texto e faça o mesmo, porque nem tudo parece significar o que foi escrito.


Nota: 3:07/5




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